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Milharais resistentes sofrem com alta pressão de pragas e eleva utilização de defensivos


Agricultores na região médio-norte de Mato Grosso estão apreensivos com a alta incidência de lagartas em lavouras de milho geneticamente modificadas. Para tentar controlar a praga e evitar perdas de produtividade nos milharais, algumas propriedades estão elevando o número de aplicações adicionais de defensivos contra os insetos.

Na Fazenda Bom Princípio, em Nova Mutum, a chuva constante e a alta umidade no campo prejudicam o ritmo da colheita da soja. O esforço conjunto está sendo adotado como estratégia para tentar não perder produção no campo.

Gerente de produção na propriedade, Bruno Miguel Pancini Nunes comenta que a maioria da soja colhida no local está vindo com umidade acima de 20%, chegando a 30%. A secagem demorada dos grãos é algo que vem dificultando os trabalhos.

“Nós tínhamos feito um planejamento de estoque de lenhas para a safra toda. Já consumimos toda a lenha e já compramos 250 metros de lenha. E eu acredito que não vai dar. Nós estamos com um mutirão grande. Quatro caminhões, quatro colheitadeiras, secador rodando 24 horas para poder dar conta, mas mesmo assim ainda está complicado”, diz ele ao projeto Mais Milho, do Canal Rural Mato Grosso.

Segundo Bruno Miguel, o atraso da soja pode encurtar o período ideal para o cultivo do milho, que nesta temporada deve ocupar 1.040 hectares na propriedade.

“Nós não plantamos nem a metade da área ainda. A gente não sabe como será a questão das chuvas. Se vai prolongar ou não. O clima está muito incerto e há dificuldade também para plantar, porque está chovendo demais. Se essa chuva cortar no final de março, como já aconteceu, o milho vai produzir abaixo de 90 sacas com certeza”.

Além das dificuldades com o plantio, a alta infestação de lagartas é outro ponto de preocupação dos produtores no que tange a produtividade dos milharais no médio-norte de Mato Grosso este ano. A grande apreensão do setor produtivo é que as cultivares com tecnologia que oferecem resistência estão sendo o principal alvo dos insetos.

Na propriedade do produtor Moacir Antônio Guarnieri, a pulverização neste momento ocorre com produtos sistêmicos, pois a tecnologia não está conseguindo segurar a alta infestação de lagartas”.

“É um custo a mais, porque a gente já está pagando essa tecnologia e ela não está respondendo para nós. E esse milho está novinho. Trinta dias de plantio. Então eu não sei como será até o final do ciclo, mas se a tecnologia não está aguentando e continuar, vai entrar no mínimo mais umas três vezes para lagartas e a indicação é que a cada ano o custo vem aumentando e a gente tem que aumentar a produtividade. Até quando?”, questiona ele sobre o número de aplicações de defensivos.

Na propriedade localizada em Boa Esperança do Norte, o produtor Moacir Antônio deve cultivar 1.170 hectares de milho. Ele revela ao Canal Rural Mato Grosso que os primeiros 60% da área já estão plantados.

“Nós estamos trabalhando hoje com uma produtividade acima dos nove mil quilos por hectare. Não podemos baixar. A receita do milho cobre o arrendamento no meu caso. Se é área própria, ela é uma segunda receita que te ajuda no dia a dia, que ajuda a gente a se manter e é moeda de troca para trocar por adubo, por insumos. E produz muito mais soja onde planta milho”.

De acordo com o agrônomo Eduardo Henrique Wasem, a cada ano se nota que a resistência às lagartas tem perdido um pouco de eficiência”.

“Mesmo com refúgio, a gente está sentindo essa diferença a cada ano. A gente aconselha que se faça o monitoramento e que não deixe que essa população cresça esperando e confiando só na tecnologia da própria planta. Se for necessário entrar com aplicação química ou biológica, de acordo com a recomendação, para estar segurando a evolução da praga”.

O consultor agronômico Cledson Guimarães Dias Pereira comenta que 100% dos clientes que atende possuem lagartas em suas tecnologias.

“Seja qual for a tecnologia, se consegue perceber duas lagartas. A do grupo das Spodopteras Frugiperda e Helicoverpa Zea. Essas são as duas lagartas que estão presentes no milho aqui”.

Cledson explica que essas duas lagartas diminuem a área foliar, uma vez que acabam com o pendão. O pendão está no miolinho ainda. Ela encartucha ali dentro e faz um estrago em todas as folhas que vão sair. Até o final do ciclo elas vão ter uma pressão muito alta de adultos, que vão estar sobrevoando a área, fazendo postura. É um ciclo. Se a gente não quebrar este ciclo, vamos ter essa praga por muito tempo”.

Outro ponto de atenção, frisa o especialista, é que “se a gente não baixar essa população, vamos ter muita perda também lá na espiga”.

O presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, Paulo Zen, salienta que a situação “é aquela velha história: você não consegue comprar sem pagar os royalties e você paga os royalties para ter o benefício e o benefício muitas vezes não vem”.

Em Sorriso, município que mais produz milho no país, também tem agricultores preocupados com a presença de lagartas na tecnologia. Conforme o Sindicato Rural, uma avaliação mais detalhada está sendo feita para tentar encontrar a principal causa do aumento populacional dos insetos na plantação geneticamente modificada.

“Estamos avaliando qual lagarta é, quais as tecnologias que não estão segurando. Vamos fazer todo esse compilado de informação, analisar, avaliar e ver realmente qual é o problema que está causando e o porquê desses materiais já não estarem fornecendo a tecnologia necessária para o controle. A gente compra um milho que é para ter um determinado controle e infelizmente a gente não está tendo. Então, o agricultor acaba tendo que adquirir mais produtos para que não ocorra o prejuízo. As lagartas estão escapando, por enquanto, no milho que está começando a se desenvolver na fase V2, V3, V4”, diz o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Diogo Damiani.

 

Fonte: Canal Rural, publicado em 17/02/2025

Fonte da imagem:  Freepik

 

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