SUSTENTABILIDADE

Pesquisadores brasileiros desenvolvem bioherbicida sustentável a partir de resíduos agrícolas


Cientistas de cinco universidades federais brasileiras, trabalhando em conjunto em um projeto em rede, estão desenvolvendo um bioherbicida potencialmente seletivo e sustentável para o controle de plantas invasoras. Segundo os especialistas, o herbicida biológico é proveniente de matérias-primas renováveis e sustentáveis.

O projeto concentra-se na síntese e avaliação da atividade herbicida de compostos que inibem a enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase (HPPD). Esses compostos são considerados promissores no combate a plantas daninhas, pois interrompem a produção de pigmentos necessários à fotossíntese, levando à morte das plantas daninhas.

Além disso, eles explicam, os compostos alvo do estudo possuem “alta seletividade”, sendo capazes de eliminar ou inibir o crescimento de ervas daninhas, sem causar danos significativos às culturas agrícolas desejadas.

O processo de obtenção desses compostos é realizado a partir de fontes renováveis. “A ideia é ter como matéria-prima moléculas derivadas de biomassa lignocelulósica, que apresenta baixa toxicidade para outras culturas”, afirma o coordenador da iniciativa, Márcio Weber Paixão, professor do Departamento de Química (DQ) da UFSCar, instituição sede do projeto pelo Grupo MWP.

A biomassa lignocelulósica é composta principalmente de polímeros, como lignina e celulose, e pode ser obtida de resíduos agrícolas (como palha de cana-de-açúcar, restos de milho e cascas de arroz), resíduos florestais (como serragem e resíduos de madeira) e plantas.

Segundo Paixão, trata-se de uma fonte sustentável muito utilizada nas áreas energética, química e farmacêutica, substituindo fontes não renováveis, como o petróleo, além de aproveitar resíduos que seriam descartados.

Após a etapa de síntese dos compostos, o estudo inclui testes de germinação para verificar sua eficácia e, posteriormente, sua chegada ao mercado. Esses testes analisarão a seletividade dos compostos em relação às culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, arroz e feijão.

Maria Isabel Ribeiro Alves, professora da UFG e integrante do projeto, afirma que, ao identificar os compostos mais eficazes, será viável ter um material que “combaterá as plantas daninhas sem prejudicar as culturas, garantindo novos mecanismos de ação, com foco na sustentabilidade”.

Com isso, Alves destaca que o estudo está alinhado ao alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Além disso, a colaboração entre cientistas de diferentes universidades federais permite uma abordagem interdisciplinar e contribui para a troca de experiências entre áreas do conhecimento, observa Alves.

“Isso fortalece ainda mais a pesquisa, possibilitando soluções mais inovadoras para o controle de plantas daninhas na agricultura brasileira”, acrescentou Alves. O projeto envolve as universidades federais de São Carlos (UFSCar), Santa Catarina (UFSC), Fluminense (UFF), Rio de Janeiro (UFRJ) e Goiás (UFG), e conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e duração prevista de três anos.

O pesquisador Márcio Weber Paixão relata ainda que atualmente existem cerca de 800 herbicidas registrados no Brasil, mas as plantas daninhas desenvolveram resistência a pelo menos 50 deles.

“Além disso, muitos desses herbicidas causam impactos ambientais negativos, como contaminação de rios, solo e ar, além de riscos à saúde humana e impactos sobre animais e vegetação. Eles também trazem outros problemas, como alto custo e baixa estabilidade. O projeto da rede, portanto, visa superar esses desafios”, afirmou.

 

Fonte: Leonardo Gottems – Agropages, publicado em 21/07/2025

Fonte da imagem: Freepik

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