USO E APLICAÇÃO
Cigarrinha causa danos ao milho no Mato Grosso do Sul
A safrinha de milho, a mais importante do grão no país, sofre impactos da seca e de pragas. Mato Grosso do Sul, um dos grandes produtores, deve ter a menor produtividade desde 2018. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previa 10.488 milhões de toneladas em fevereiro. Na estimativa de maio caiu para 10.359. A produtividade prevista era de 5.049 kg/ha caiu para 4.900 kg/ha.
O cenário observado nesta safra de milho é de baixo volume hídrico e temperaturas elevadas, dificultando todo o desenvolvimento esperado da cultura. Outro elemento que vem impactando a cultura é a incidência da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Segundo o pesquisador de Herbologia e Entomologia da Fundação MS, Luciano Del Bem Júnior, a temperatura e a disponibilidade de hospedeiros são fatores limitantes para a manutenção e a explosão populacional dessa espécie, sendo entre 26 e 32 ºC, a faixa que o seu ciclo biológico se completa em 24 dias. “Assim, diante destas condições edafoclimáticas, verifica-se o inseto presente nas lavouras, com moderada/alta infestação, a depender do sistema de condução e da região produtora”, diz.
O inseto, alguns anos atrás, era considerado secundário, com baixo potencial de danos à cultura. Porém, atualmente, devido a fatores como a semeadura de híbridos suscetíveis ao complexo de enfezamento, controle ineficiente do inseto, tanto pela escolha do inseticida como pela dose empregada, momento de entrada do pulverizador na área (considerando apenas as pulverizações para percevejo, no chamado “efeito rebote”), tecnologia de aplicação utilizada (a localização do inseto na planta dificulta a chegada do produto no alvo) e, principalmente, a manutenção do milho tiguera no campo, mantém a “ponte verde” considerada ideal para a praga em longos períodos do ano, condicionando sua alimentação, reprodução e desenvolvimento, mantendo as populações durante todo calendário agrícola.
“Vale ressaltar que adultos e ovos de D.maidis podem ser encontrados em outras espécies de plantas como, por exemplo, a do sorgo (Sorghum halepense, S. arundinaceum, S. verticilliflorum, S. bicolor), contudo, numa mesma área, a densidade de insetos encontrada no sorgo é, geralmente, cerca de dez vezes menor que no milho”, comenta Del Bem Júnior.
A cigarrinha tem grande potencial de dano, através da sucção da seiva e, principalmente os danos indiretos, pela transmissão de fitopatógenos como os molicutes (fitoplasma e espiroplasma) e a virose (‘Rayado Fino’). “Vale ressaltar que quanto mais cedo for a infecção, maiores serão os prejuízos, podendo ser superiores a 70% em casos extremos”, destaca o pesquisador.
A Fundação MS desenvolve um projeto de pesquisa denominado “Previne” (Programa de enfrentamento a viroses e molicutes no Mato Grosso do Sul), cujo objetivo é monitorar o inseto ao longo do ano, bem como analisar o comportamento dos principais híbridos disponíveis no mercado frente ao complexo de enfezamentos, além de trazer medidas de controle químico e biológico atualizadas e compatíveis com as praticadas na atualidade. Além disso, o projeto visa difundir todo este complexo de informações através de eventos para que tal conteúdo chegue de fato ao produtor.
O monitoramento frequente realizado na cultura da soja, com a presença de milho tiguera, através do uso de armadilhas (“Yellow trap”), confirmou a presença do inseto nas áreas de produção desde o início do acompanhamento, com aumento populacional no mês de dezembro na região de Maracaju, em janeiro nas áreas de São Gabriel do Oeste e final de fevereiro em Naviraí. Com relação a safrinha, têm-se verificado aumento crescente das populações no mês de abril para as regiões de São Gabriel do Oeste e Naviraí e maio para o município de Maracaju.
Para ele verifica-se a necessidade do manejo correto da cigarrinha-do-milho, com medidas que vão desde o monitoramento das áreas de produção, a fim de assegurar o momento correto de entrada com a pulverização na lavoura, até medidas como escolha do híbrido utilizado, posicionamento de inseticidas (químicos e/ou biológicos), dose empregada, técnica de aplicação, além do manejo assertivo das plantas daninhas presentes na área e da eliminação do milho tiguera, sendo este considerado o principal hospedeiro da praga.
Fonte: Agrolink, 02/06/2021