USO E APLICAÇÃO

Estudo revela padrão sonoro do gorgulho-da-soja e sugere nova alternativa no combate à praga


Adultos de Rhyssomatus nigerrimus, praga conhecida como gorgulho-da-soja, emitem sons específicos durante a agregação para acasalamento. Pesquisadores identificaram dois padrões acústicos distintos. A descoberta permite explorar o desenvolvimento de armadilhas acústicas.

No México, o gorgulho-da-soja causa prejuízos econômicos relevantes. A praga apresenta ciclo univoltino. O adulto emerge após as chuvas de primavera e utiliza plantas hospedeiras alternativas antes de migrar para lavouras de soja. No campo, a espécie é frequentemente observada em agregações nos legumes da planta, onde ocorre o acasalamento. As fêmeas colocam os ovos nas vagens.

Durante esse processo, adultos emitem sons de baixa intensidade. Os pesquisadores Andrea Joyce, Isabel Delgado, Fabian Gonzalez e Guillermo López-Guillén realizaram experimentos em laboratório com grupos de três, cinco e dez insetos separados por sexo. Os sons foram captados por microfone de lapela e analisados com software específico.

Padrões acústicos

Dois padrões acústicos emergiram: o “chirp emparelhado” (duas pulsações sonoras breves) e uma “série de chirps” (sequência rápida de pulsos). Ambos os sexos produziram o primeiro padrão. O segundo apareceu com mais frequência em grupos maiores de machos e em grupos pequenos de fêmeas.

Grupos de machos emitiram chirps emparelhados em todas as configurações testadas. A duração da primeira emissão variou entre 30,8 milissegundos (ms) em grupos de 10 indivíduos e 51,1 ms em grupos de cinco. Essa diferença foi estatisticamente significativa. A frequência fundamental do segundo chirp foi mais alta nos grupos maiores (2.591 Hz em grupos de dez contra 1.206 Hz em grupos de cinco).

O intervalo entre os chirps manteve-se relativamente estável entre 26 e 33 ms. O segundo chirp também teve duração e frequência variáveis, mas sem diferenças estatísticas robustas entre os grupos.

As fêmeas também emitiram chirps emparelhados em todos os grupos. A duração do primeiro chirp variou entre 37,1 ms (dez fêmeas) e 68,3 ms (três fêmeas), sem diferença estatisticamente significativa. A frequência fundamental oscilou pouco. O intervalo entre os pulsos também não apresentou variação relevante.

A série de chirps foi detectada em metade das gravações com grupos de dez e cinco machos. Um único grupo de três machos produziu esse som. A sequência média teve entre quatro e dez chirps, com variação de duração entre 26,6 ms e 35,8 ms. A frequência do terceiro chirp foi maior nos grupos de cinco (1.836 Hz) do que nos de dez (818 Hz), diferença estatisticamente significativa.

No caso das fêmeas, o comportamento se inverteu. Nenhum grupo de dez fêmeas produziu séries de chirps. Apenas uma gravação em grupos de cinco e quatro gravações em grupos de três apresentaram esse padrão. As séries emitidas por fêmeas de grupos pequenos foram mais longas em intervalo entre pulsos, mas de menor frequência (cerca de 212 Hz), sugerindo outra função.

Interação social

A ausência de sons em grupos isolados ou pares de adultos, observada em testes preliminares, indica que a emissão depende da interação social. Os pesquisadores levantaram hipóteses sobre a função dos sons. O padrão emparelhado pode servir como sinal específico da espécie — importante na comunicação durante o acasalamento. A série de chirps, por outro lado, poderia estar associada a estresse ou competição entre machos.

Outras espécies

Essa hipótese ganha força com base em observações anteriores em outras espécies. O gorgulho Phrydiuchus tau, utilizado no controle biológico da sálvia, emite sons semelhantes durante disputas entre machos. No caso de Sternochetus mangifera foram registrados dois tipos de sons: um ligado à reprodução e outro, mais intenso e longo, relacionado ao estresse.

O mecanismo anatômico responsável pelo som em R. nigerrimus é do tipo elytro-tergal, já descrito em outros curculionídeos. Nesse processo, o inseto esfrega os élitros contra o abdômen. A estrutura produz vibrações que se propagam como som. Em algumas espécies, essa emissão também pode ocorrer em resposta a predadores.

Padronização dos sons

A padronização dos sons em diferentes configurações de grupo, com pequena variação na maioria dos parâmetros, reforça a hipótese de que o chirp emparelhado seja uma assinatura acústica da espécie. Esse tipo de sinalização pode ser explorado em tecnologias de monitoramento.

Sistemas acústicos de detecção já estão em uso no controle de pragas de armazenamento. Ao combinar sensores com algoritmos de reconhecimento de padrões, é possível identificar espécies com base em sons característicos. No caso do gorgulho-da-soja, a exclusividade do padrão emparelhado em contexto de agregação poderia permitir sua identificação em campo.

Armadilhas acústicas

Além disso, o uso de armadilhas acústicas reduziria a necessidade de aplicações de inseticidas, alinhando-se a estratégias de manejo integrado de pragas. A introdução de tais ferramentas depende do desenvolvimento de dispositivos capazes de captar sinais de baixa intensidade em ambiente ruidoso, como lavouras comerciais.

Nos testes, os sons do gorgulho foram gravados com microfones de lapela acoplados a celulares, dentro de tubos plásticos. As análises foram feitas com taxa de amostragem de 44.100 Hz e janelas de Hamming, padrão para estudos de bioacústica. Cada gravação teve duração de um minuto.

Os pesquisadores utilizaram métodos estatísticos como ANOVA e Kruskal–Wallis para comparar os parâmetros acústicos. As variações mais relevantes foram observadas na duração e frequência dos sons emitidos por grupos masculinos maiores, sugerindo influência da competição intraespecífica.

A padronização dos chirps emparelhados contrasta com a variabilidade das séries de chirps. Essa distinção aponta para funções diferentes dos dois padrões sonoros. A interpretação preliminar dos dados propõe que o primeiro tenha papel reprodutivo, enquanto o segundo refletiria situações de conflito ou ameaça.

 

Fonte: Revista Cultivar, publicado em 07/10/2025

Fonte da imagem: Freepik

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