USO E APLICAÇÃO

Excesso de chuva prejudica controle de percevejos na soja


O excesso de chuvas dificulta o manejo de defensivos e deixa lavouras de soja vulneráveis ao ataque de doenças e pragas em Mato Grosso. Uma das preocupações é com o percevejo, inseto que causa danos significativos tanto para a oleaginosa quanto para o milho, elevando os custos da safra em algumas regiões.

“Como a soja alongou o ciclo, ela está mais tempo verde na roça e, consequentemente, tem que cuidar mais e com o tempo nublado e fechado as entradas estão atrasadas. Assim, tem aumento de pragas, principalmente dos percevejos. O controle dele tem que ser feito bem na fase inicial, porque se você perde o tempo de aplicação, acaba ficando ainda menos eficientes as tuas aplicações”, explica o produtor Daniel Schwartz.

Segundo ele, geralmente são feitas duas aplicações de produtos em sua lavoura para mitigar a praga, mas atualmente essas baterias são dobradas. Com isso, o custo de produção da soja aumenta. “Essa vai ser a safra mais cara da história. O tempo está difícil de trabalhar e o produtor fica ansioso e preocupado”.

O presidente do Sindicato Rural do município, Marcelo Lupatini, conta que os produtores com variedades de ciclo mais longo, de mais de 115 dias, estão precisando intensificar o uso de defensivos contra percevejos e lagartas. As chuvas ininterruptas atrasam essas aplicações em até nove dias, ou seja, o ponto ideal de utilização do produto se perde e as pragas se alastram, trazendo mais danos.

Comprometimento da produtividade da soja

No distrito de Boa Esperança, em Sorriso, também tem pulverizador com o cronograma atrasado por causa de alta umidade e do tempo nublado. O produtor Bruno Cesar Zanatta plantou 1.840 hectares de soja nesta safra e está com dificuldade de controlar a presença dos percevejos, o que pode comprometer o desempenho da lavoura.

“Já fiz quatro aplicações para percevejos. A gente pode observar que está tendo a presença dele nos talhões. Vem a chuva e, às vezes, os produtos não ficam 20 minutos aplicados e não dá o efeito desejado, então temos de aplicar novamente”, conta.

Segundo ele, no ano passado, o prejuízo foi de 18%, sendo que 8% foi em relação ao grão ardido e mais 10% pelos percevejos.”

O técnico agropecuário Ederson Cleiton Peruzzolo lembra que as previsões meteorológicas já vinham mostrando que o cenário seria de muita chuva e tempo nublado. “A aplicação que a gente programa de fazer a cada 15 dias acabou atrasando de três até sete dias, dependendo da aplicação. Entrar com o produto um pouco mais tarde já compromete a sua eficiência, dificultando os tratos culturais”, detalha.

O especialista conta, também, que as pragas que vem se destacando na cultura são a mancha-alvo e a antracnose, que estão sendo observadas com intensidade nas vagens. Contudo, a maior preocupação segue sendo em relação aos percevejos.

Ataque severo

Peruzzolo está na região há dez anos. Ele é responsável por uma área de, aproximadamente, 30 mil hectares e diz que o ataque dos percevejos é silencioso e severo tanto para a soja quanto para o milho.

“[No ano passado] nós tivemos muito problema na hora de entregar o produto no armazém. Na classificação, tivemos desconto por picada de percevejos, cargas que pesavam mil, dois mil quilos a menos por causa dessa picada de percevejo. Essa praga se intensificou muito. Hoje, o produtor faz três, quatro aplicações para controle. Antigamente fazíamos uma ou duas, no máximo”, lembra.

De acordo com a pesquisa, as espécies mais comuns da praga em Mato Grosso são o percevejo barriga verde e o percevejo marrom. Para o controle ser mais eficiente, a recomendação é adotar bom manejo de inseticida nas áreas de soja mais precoce para evitar a “ponte verde” para as cultivares tardias e para o milho.

De acordo com a pesquisadora da Fundação MT, Lucia Vivan, a recomendação é que se providencie a aplicação de defensivos quando for identificado, em média, de um a um e meio percevejo.

“O pano de batida é importante porque nós vamos considerar a população de ninfa, que vai estar presente na área e se alimenta tanto quanto os adultos. Geralmente nas primeiras aplicações é importante que se use um produto mais de choque e, a partir das ocorrências de ninfas, se utilize produtos à base de neonicotinóides e piretróides. Essa população controlada nós vamos ter um aumento no período de colonização, tendo um tempo maior da soja livre da presença desses insetos”, recomenda.

 

Fonte: Canal Rural, 04/02/2023

Fonte da Imagem: Pixabay

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