USO E APLICAÇÃO
Manejo integrado é crucial para o combate de plantas daninhas em grãos
Com o andamento do período de plantio das culturas de verão, a presença de plantas daninhas resistentes aos herbicidas representa um desafio crescente para agricultores em diversas regiões do Brasil. Várias espécies de plantas daninhas eudicotiledôneas têm gerado preocupação devido à sua alta capacidade de infestação e à resistência a herbicidas amplamente utilizados.
Como exemplos, o complexo caruru, a buva, a cravorana, o picão-preto e o leiteiro. Essas espécies têm causado perdas significativas de produtividade em culturas como a soja e o milho, atingindo reduções superiores a 50% em alguns casos.
O complexo caruru, formado por diversas espécies do gênero Amaranthus, como o caruru-branco (Amaranthus hybridus var. paniculatus) e o caruru-palmeri (Amaranthus palmeri), tem sido especialmente problemático.
O caruru é uma planta de ciclo anual, com alta capacidade de produção de sementes, podendo gerar até 500 mil sementes por planta, que permanecem viáveis no solo por até cinco anos. Esse comportamento contribui para sua persistência e proliferação nas áreas agrícolas, especialmente em regiões como o Paraná, onde a resistência ao controle químico tem sido cada vez mais relatada.
Em 2022, conforme dados de pesquisas, foram aplicados aproximadamente 700 mil quilos de herbicidas no estado, com destaque para o uso de glifosato (29,34%) e 2,4-D (16,35%). Mesmo assim, em várias regiões do estado, como Tibagi, Ponta Grossa e Cascavel, os casos de escape de controle são recorrentes.
Outra planta daninha de destaque é a buva (Conyza sumatrensis, Conyza bonariensis e Conyza canadensis). Ela apresenta ciclo anual ou bianual e elevada produção de sementes, com capacidade de produzir até 600 mil sementes por planta.
Essa espécie tem mostrado grande resistência a herbicidas, como o glifosato e o glufosinato. A buva é capaz de reduzir em até 14% a produtividade da soja por metro quadrado, e seu controle torna-se difícil após o estabelecimento da cultura.
A cravorana (Ambrosia artemisiifolia), por sua vez, é outra planta que tem preocupado os agricultores. Com ciclo anual e reprodução por sementes que podem permanecer viáveis no solo por mais de 40 anos, a cravorana é especialmente resistente ao controle químico quando a planta atinge quatro folhas.
A associação de técnicas de controle mecânico, como roçada e pulverização subsequente, tem se mostrado eficaz em algumas áreas.
O picão-preto (Bidens pilosa e Bidens subalternans) é outra planta daninha resistente que afeta culturas como soja, milho e algodão. Ele pode reduzir a produtividade em até 30%, além de causar danos às fibras do algodão. A resistência ao glifosato tem sido um problema crescente, especialmente em áreas onde o uso repetido de herbicidas inibidores da ALS foi comum.
O leiteiro (Euphorbia heterophylla), também conhecido como amendoim-bravo, é uma planta anual com fisiologia do tipo C4, o que lhe confere uma alta capacidade de crescimento e reprodução. Sua resistência aos inibidores da ALS e ao glifosato tem dificultado o manejo.
Práticas como o uso de herbicidas pré-emergentes, a combinação de diferentes mecanismos de ação e a aplicação sequencial são recomendadas para controlar o leiteiro, especialmente em áreas com alta infestação.
A resistência aos herbicidas tem forçado os agricultores a adotarem novas estratégias de manejo para o controle dessas plantas daninhas. Além do uso de herbicidas, é recomendada a adoção de práticas como o controle cultural, que visa conferir vantagem competitiva à cultura principal sobre as plantas invasoras.
Medida importante é o controle preventivo, que inclui a limpeza de máquinas e equipamentos antes de seu uso em áreas não infestadas, para evitar a introdução dessas plantas em novas áreas produtivas. Inspeção constante das bordas das lavouras e de outras áreas não cultivadas é essencial para eliminar plantas antes da produção de sementes.
Outro ponto crucial é o manejo integrado, que combina ações químicas e não químicas. O uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, assim como aplicações sequenciais, tem mostrado resultados positivos no controle das espécies resistentes.
Em situações em que as plantas daninhas estão presentes em estágios avançados de desenvolvimento, é comum a utilização de herbicidas como o glufosinato e o diquate em aplicações próximas ao período de semeadura, frequentemente associados a herbicidas residuais. Para o milho, por exemplo, a aplicação de atrazina em pós-emergência é uma opção viável, especialmente quando combinada com outros herbicidas.
Fonte: Revista cultivar, publicado em 26/11/2024
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