USO E APLICAÇÃO

Pesquisas apontam manejo correto para combater a ferrugem asiática


O produtor Ilseu Peretti, de Chopinzinho, no Sudoeste do Paraná, já está com a soja no campo. Em 50 hectares de área plantada, ele espera colher, no fim de fevereiro de 2025, em torno de 90 sacas por hectare. O volume está acima da média estadual de 60 sacas por hectare e, mesmo com a ameaça da ferrugem asiática, ele acredita que a estimativa deve se manter. “A gente faz o dever de casa”, enfatiza o produtor. Peretti comenta que tem tido problema com a ferrugem asiática há vários anos: “em toda safra ela vem com tudo”.

Considerada a doença mais severa para as lavouras de soja no país, a ferrugem asiática pode causar queda de até 90% da produtividade. O agricultor diz que não tem registrado perdas porque aposta no monitoramento e no manejo correto, investindo em bons fungicidas para o controle e seguindo a orientação dos técnicos para a aplicação.

Segundo ele, tudo começa nos cuidados com o solo, que envolvem adubação bem equilibrada, com calagem e adoção de cama de aviário, e nutrição foliar após a emergência da planta. O produtor fez ainda um curso de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e conta que já está há várias safras sem fazer aplicação de inseticidas, o que contribui para o equilíbrio do solo.

É na propriedade de Ilseu Peretti que está instalado um dos 200 coletores de esporos que fazem parte do Alerta Ferrugem, sistema de monitoramento da ferrugem asiática da soja implementado por meio de uma parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), Embrapa Soja, Sistema Faep/Senar-PR, entre outros.

Os equipamentos detectam o momento exato da chegada dos primeiros esporos da ferrugem nas lavouras, o que permite a definição do melhor momento para fazer o uso de fungicidas. Até o momento, o sistema está com 110 equipamentos instalados e detectou um ponto com esporos em Palotina, na região Norte do Paraná.

As informações são divulgadas no site do IDR-Paraná, na aba Alerta Ferrugem, com atualizações semanais. Os extensionistas também multiplicam a informação por meio dos grupos de whatsapp, orientando sobre o momento ideal para o produtor fazer o controle e os produtos de maior eficiência contra a doença.

De acordo com Edivan José Possamai, coordenador estadual do programa Grãos Sustentáveis do IDR-PR, os produtores que seguiram as orientações do Alerta Ferrugem, nas últimas safras, conseguiram reduzir o número de aplicações de fungicida nas lavouras em 35%. “É um ganho econômico para o produtor, com maior rentabilidade na lavoura, e também um ganho ambiental, com menos produtos químicos no meio ambiente”, avalia.

Possamai ressalta que o manejo da ferrugem no momento correto é fundamental para garantir a produtividade da lavoura. “Para o controle efetivo, a principal estratégia é a aplicação de fungicidas. Por isso o monitoramento das áreas, com assistência técnica especializada para a melhor tomada de decisão no manejo, é tão importante”, frisa.

Ilseu Peretti concorda e diz que conseguiu reduzir as aplicações de fungicidas de cinco para duas ou três. “Antes do Alerta Ferrugem, a gente se baseava apenas no calendário de plantio. Com essa ferramenta, conseguimos visualizar quando a ferrugem está chegando e não fazemos a aplicação sem ter a presença da doença na região. Tem mais precisão e gera uma economia muito grande”, relata. Ele também destaca a orientação e o respaldo dos especialistas do IDR e da cooperativa da qual é associado.

O trabalho da rede de monitoramento organizada pelo IDR abrange as principais regiões produtoras de soja do Paraná. Nesta safra (2024/25) será validado o uso de Inteligência Artificial (IA) para automação na identificação dos esporos. Atualmente, as lâminas coletadas no campo são avaliadas em laboratório por profissionais capacitados na identificação visual dos esporos, o que onera o processo. Com o uso de IA, as lâminas passarão a ser analisadas por um software. “Isso possibilita aumentar o número de coletores no Estado e melhorar as condições de identificação dos esporos que causam a ferrugem-asiática”, explica Possamai.

Esse trabalho foi viabilizado por meio de parceria com o Centro de Inteligência Artificial no Agro (CIA-Agro), que integra os Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napi) do Estado do Paraná. O coordenador do programa do IDR revela que o objetivo é tornar a tecnologia escalável e acessível a mais produtores rurais. E, também, ampliar a identificação de esporos de outras doenças de plantas durante o processo.

A Fundação ABC também realizou, no fim do mês de setembro, o monitoramento da ferrugem-asiática na região de atuação das cooperativas mantenedoras da entidade de pesquisa, englobando uma área plantada de 320 mil hectares nos estados do Paraná e São Paulo. Apesar de uma redução de 45% de plantas com a presença de ferrugem em relação à safra passada, foram constatados pontos com a presença da doença em plantas de soja guaxa (voluntária) e soja perene (Neonotonia wightti).

Para a fundação, a presença de ferrugem na região acende um alerta para o manejo da doença na safra de verão 2024/25, principalmente em semeaduras mais tardias. Giovanni Kochinski, pesquisador e coordenador de pesquisa do Setor de Fitopatologia da Fundação ABC, explica que na sequência o monitoramento será feito nas áreas de experimentos da entidade, espalhadas pela região. Em parte desses talhões não é feita a aplicação de fungicidas e, segundo Giovanni, assim que surgirem os primeiros focos da doença será feito o alerta para os produtores e técnicos.

“Esse trabalho é importante, uma vez que temos a presença da doença na região, para o produtor já tomar os devidos cuidados. Seguir as nossas recomendações e orientações do agrônomo, a fim de fazer o manejo adequado, com aplicação de fungicida dentro dos intervalos corretos”, enfatiza o pesquisador.

Edivan Possamai, do IDR-PR, lembra que a cada ano o comportamento da ferrugem asiática é diferente, dependendo das condições climáticas. Em anos sob influência do La Niña – como este -, mais secos, a doença tende a entrar mais tarde nas lavouras e com menor agressividade. “Há esse indicativo para este ano, mas é preciso fazer o acompanhamento”, destaca.

Para minimizar os impactos da ferrugem asiática e manter o controle da doença na lavoura de soja, os especialistas reforçam a importância do monitoramento, além do acompanhamento das alterações da ferrugem no campo. Assistência técnica para a definição do manejo mais adequado, considerando estádio da planta e condições climáticas, também é crucial para bons resultados. “O manejo da ferrugem tem que começar de forma preventiva, porque depois, em estágio de descontrole, fica prejudicado. Isso porque não tem fungicida 100% eficaz no controle da doença”, diz Possamai.

O pesquisador Giovanni Kochinski lembra que a aplicação do fungicida no melhor momento tem impacto direto no manejo da ferrugem. Outra recomendação técnica destacada por ele, para garantir eficácia na aplicação, é a utilização da vazão adequada no pulverizador: 100 litros por hectare. Além disso, definir os intervalos corretos de aplicação do fungicida: “com as pancadas de chuvas de verão, acaba ocorrendo a lavagem desse fungicida. É importante atentar a esse detalhe, com maior intervalo entre o término da aplicação e a próxima chuva”.

 

Fonte: Globo rural, publicado em 03/11/2024

Fonte da imagem: Freepik

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