FORMULADOS

Em Mato Grosso, 44% dos produtores não fazem Manejo Integrado de Pragas

Em Mato Grosso, 44% dos produtores não fazem Manejo Integrado de Pragas


De acordo com pesquisa, a situação é mais grave na região leste, onde 79% dos produtores não adotam boas estratégias de manejo

A falta de uso ou o uso incorreto do manejo integrado de pragas (MIP) pode causar a perda de tecnologias disponíveis no campo. O manejo inadequado e o excesso de pulverizações têm contribuído para o aumento da resistência de pragas a herbicidas e para o ataque de lagartas a plantas Bt. Os problemas foram identificados em fazendas de Mato Grosso durante a terceira edição do Circuito Tecnológico do Milho e estão sendo acompanhados por pesquisadores da Embrapa.

O relatório do Circuito mostra que 44% dos produtores entrevistados no estado não fazem o MIP. A situação é mais grave na região leste, onde 79% dos produtores não adotam as estratégias do manejo integrado de pragas. E é justamente no leste do estado que está o maior problema com pragas de difícil controle. Naquela região, 30,8% dos produtores não alcançaram êxito no controle, mesmo fazendo sucessivas aplicações de inseticidas. Na média estadual, 20,2% dos entrevistados não conseguiram controlar as pragas das lavouras. A falta de rotação de moléculas, ou princípio ativo dos agroquímicos, é um dos responsáveis pela evolução de resistência dos insetos também a inseticidas.

Mesmo em lavouras com a presença do evento Bt, que confere à planta toxidez às lagartas, esses insetos estão causando danos à lavoura. Um provável motivo é o mau uso da tecnologia, sem respeito às áreas de refúgio recomendadas para evitar que as lagartas se adaptem às condições adversas da cultura transgênica.

Refúgio

O relatório aponta que 17,7% dos produtores assumem não plantar o refúgio, que são as áreas sem plantas geneticamente modificadas. Entre os que fazem o refúgio, a área média destinada é de 19,5% da lavoura, superior ao mínimo recomendado, que é de 10% da área para a cultura do milho.

Além disso, o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Rafael Pitta alerta para o fato de a não aplicação do manejo integrado de pragas (MIP) nas áreas de refúgio faz com que elas tenham pouca eficiência. Ele explica que o uso sem critérios do controle químico acaba matando os insetos suscetíveis, não possibilitando o cruzamento deles com os insetos resistentes. Com isso, surgem gerações somente de insetos resistentes que não serão afetados pelos agentes químicos.

Lagartas coletadas

Para acompanhar os problemas e tentar minimizá-los, além de ações de transferência de tecnologia voltadas para a importância de se fazer o MIP e de adotar as práticas corretas no uso das tecnologias transgênicas, os pesquisadores da Embrapa estão fazendo estudos em laboratório com lagartas coletadas nas lavouras durante o Circuito Tecnológico.

Os insetos são levados para os laboratórios da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), e da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). Uma das pesquisas avalia o percentual de sobrevivência dessas lagartas em milho com as tecnologias Bt mais plantadas em Mato Grosso, a VT Pro, Herculex e Viptera.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo Simone Mendes, no acompanhamento que vem sendo feito pelo terceiro ano seguido, ainda não foi encontrada resistência na tecnologia Viptera. Já a tecnologia Herculex apresenta alto percentual de insetos sobrevivendo em milho.

A tecnologia VT Pro, por sua vez, apresenta baixo percentual de lagartas resistentes. O resultado indica que os insetos resistentes já estão presentes na população, sendo necessário dobrar a atenção com estratégias de manejo de resistência como o refúgio e manejo integrado de pragas. “Observamos que a evolução da resistência para a lagarta Spodoptera frugiperda na tecnologia VT Pro não tem ocorrido com a mesma velocidade do observado para a tecnologia Herculex”, afirma Simone.

A pesquisadora explica que essas informações serão importantes para a tomada de decisão e planejamento do produtor. Conhecendo o comportamento de cada tecnologia e a população de pragas de sua região, ele poderá se programar melhor, quanto à aquisição de sementes e manejo da cultura no campo.

Na Embrapa Agrossilvipastoril são executados testes para verificar o nível de resistência das lagartas às moléculas disponíveis no mercado. “Isso é muito importante para saber quais as estratégias eficazes para contornar esse problema. Por exemplo, trabalhar com controle químico, fazer complementação com área de refúgio, ou outra? Em função desses resultados é que poderemos determinar uma melhor estratégia”, explica Rafael Pitta. As pesquisas ainda estão em andamento, entretanto, já é possível notar diferenças na resistência das lagartas coletadas no campo quando comparadas às populações criadas em laboratório.

O Circuito Tecnológico do Milho acontece anualmente na Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e conta com a participação da Embrapa e do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Ao longo de uma semana, cinco equipes percorrem dezenas de propriedades nas principais regiões produtoras do estado. Nas visitas, os participantes acompanham a situação das lavouras e fazem entrevistas com os produtores e consultores.

SF Agro, 07/09/2016

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