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O papel dos defensivos químicos e biológicos na evolução da agricultura mundial


Proteger as lavouras é fundamental para superar o desafio de alimentar a humanidade com qualidade e segurança 

Dominar as técnicas de cultivo e criação racional de animais, foram os passos decisivos para que os povos ancestrais não precisassem mais, literalmente, correr atrás da comida!  

A implantação de sistemas agropastoris proporcionou a ampliação na oferta de alimentos. Foi o que promoveu o crescimento das populações e permitiu que o homem se fixasse na terra. Ou seja, em primeira instância, a agricultura é a responsável pelo surgimento das cidades. 

No entanto, desde que aprendeu a cultivar vegetais, há milhares de anos, o homem vem lidando com pragas e doenças que inviabilizam colheitas ou reduzem drasticamente as produtividades. Por isso, desde os primórdios da agricultura, substâncias químicas, métodos culturais e ativos biológicos vêm sendo utilizados no controle de insetos, fungos e bactérias – entre outras ameaças – que prejudicam o desenvolvimento das lavouras.  

Para se ter ideia, o primeiro registro da aplicação de inseticidas data de 4.500 anos, quando os sumérios passaram a empregar compostos de enxofre para combater insetos e ácaros. E há mais de 2500 anos, os chineses já entendiam que estabelecer épocas de plantio resultava em lavouras mais produtivas e que microrganismos também eram úteis no combate de diversas pragas. 

Ciência e segurança 

A partir do século 20, a rápida evolução da ciência transformou a produção agrícola. A pesquisa destinada à proteção de cultivos, desenvolveu defensivos mais eficazes e capazes de eliminar insetos que se alimentam dos vegetais; fungos e outros organismos causadores de doenças; e plantas invasoras que competem com a cultura principal por nutrientes.   

Assim, a agricultura ganhou dimensão, eficiência e protagonismo no suprimento das necessidades de uma população que crescia, e ainda cresce, vertiginosamente.    

E para seguir levando alimento na mesa de milhões de pessoas, com sustentabilidade, os defensivos agrícolas são essenciais. Por esse motivo, a indústria de defensivos agrícolas investe na pesquisa e desenvolvimento de produtos cada vez mais eficientes. 

Cientistas do mundo todo trabalham com adaptação dos insumos existentes e no desenvolvimento de novas moléculas, buscando defensivos cada vez mais seletivos para determinadas pragas e para atender a uma variedade cada vez maior de culturas agrícolas, garantindo maior segurança ao ser humano e ao meio ambiente.  

Como resultado desse empenho, os defensivos químicos se tornaram mais eficientes e menos persistentes na natureza, ao longo do tempo. Para se ter ideia, nos anos 1950, a taxa média de aplicação de fungicidas, inseticidas e herbicidas, em todo o mundo, era respectivamente de 1.200, 1.700 e 2.300 gramas de ingrediente ativo por hectare. Em 2010, esses números caíram para 100, 40 e 75 gramas. Quando as ferramentas de monitoramento digital são adicionadas a essa equação, a precisão de aplicações no momento e quantidade exatos trazem ainda mais equilíbrio para os sistemas agrícolas.  

Exemplo brasileiro 

Reconhecidamente, o Brasil ocupa um papel essencial para a segurança alimentar mundial e a sustentabilidade ambiental. Em menos de meio século, o país passou de importador a um dos maiores exportadores de alimentos do planeta. E fez isso mantendo a maior parte de seu território coberto por vegetação nativa. 

Os defensivos agrícolas, químicos e biológicos, foram imprescindíveis na construção dessa trajetória. Inúmeras pesquisas apontam que seria impossível manter o desempenho sem proteger as lavouras. Para se obter a mesma quantidade de alimentos que se produz atualmente, seria necessário aumentar a área plantada, impactando diretamente na preservação dos recursos naturais e das florestas.  

Integração de tecnologias 

Além disso, aliado ao manejo integrado de pragas, o uso conjugado de defensivos químicos e biológicos no campo vem entregando excelentes resultados. A prova disso é o crescimento mais do que expressivo do mercado brasileiro de bioinsumos, que ultrapassou 30% em 2021 – contra 14% no restante do mundo – e que deve triplicar nos próximos 10 anos.  

Na base dessa projeção, está a alta adoção dos biológicos nas principais culturas brasileiras. Atualmente, a soja já responde por 40% do mercado, seguida por cana-de-açúcar (20%), milho (10%), hortifrutis(8%), algodão (5%) e outros (2%). 

Obviamente, nem tudo é perfeito. O Brasil ainda perde para seus concorrentes internacionais na hora de colocar as tecnologias no mercado. Enquanto os países europeus, os Estados Unidos e a Austrália, por exemplo, levam cerca de 3 anos para aprovar um novo pesticida, o sistema regulatório brasileiro leva 8 anos. 

Modernizar a legislação nacional que regulamenta a avaliação e o registro de defensivos agrícolas químicos e biológicos, além de uma necessidade, é uma medida fundamental para assegurar que o Brasil mantenha o protagonismo e seu nobre papel de alimentar o mundo. 

 

Christian Lohbauer é cientista político e presidente executivo da CropLife Brasil

 

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