ENTREVISTA

Álefe Borges – Gestor de Portfólio da Bionat – comenta sobre o mercado de biológicos


Álefe Vitorino Borges

Gestor de Portfólio
Bionat Soluções Biológicas | Essere Group

Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa/MG, Mestrado e Doutorado em Fitopatologia com ênfase em Controle Biológico.

Mais de 15 anos de experiência em pesquisa e desenvolvimento de fungos e bactérias, além de seus metabólitos, visando o controle biológico na agricultura.

Atualmente ocupa a posição como Gestor de Portfólio na Bionat Soluções Biológicas, empresa
do Essere Group, tendo sob sua responsabilidade as ações relacionadas ao desenvolvimento,
posicionamento e lançamento de tecnologias com acesso ao mercado no Brasil e Paraguai.

1.Quais micro-organismos são destaques nos principais produtos biológicos da Bionat? 

A Bionat tem concentrado seu portfólio principalmente em bactérias e fungos, com destaque para algumas cepas exclusivas. No produto Sprinter, por exemplo, temos uma cepa exclusiva de Pantoea agglomerans, desenvolvida em parceria com a ESALQ. Este produto atua como promotor de crescimento, mobilizador de nutrientes e aumenta a tolerância a estresses abióticos, sendo uma tecnologia única no Brasil com tripla ação.  

Outro destaque é o Peregrino, à base de Bacillus subtilis e Bacillus velezensis. O biofungicida e bionematicida também é exclusivo e foi desenvolvido em parceria com a ESALQ. Essa tecnologia possui formulação com endósporos, garantindo tempo de prateleira de até 12 meses em temperatura ambiente. Já para os fungos, destaca-se o Habitat, o qual contém uma cepa exclusiva de Trichoderma afroharzianum desenvolvida em parceria com a Embrapa. Seu diferencial está na elevada concentração e baixa dosagem de aplicação por hectare, o que assegura ao agricultor um excelente custo-benefício. Somados, Sprinter, Peregrino e Habitat já representam mais de 65% do faturamento da Bionat.  

Recentemente, a Bionat lançou duas tecnologias exclusivas desenvolvidas em parceria com a Embrapa. O bioinseticida DISSARA possui uma formulação inédita contendo a bactéria Bacillus thuringiensis S234 e o fungo Metarhizium rileyi CG1153 em alta concentração e baixa dosagem. Essa associação permite controlar diversas lagartas em diferentes estágios/ínstares de desenvolvimento: a tecnologia atua por ingestão sobre lagartas pequenas, até o 3° ínstar, pelo efeito das 18 toxinas Bt presentes na formulação, enquanto o fungo atua por contato e entrega também o controle efetivo de lagartas maiores. Já o SPAITERAN chega no último trimestre de 2025 como bioinseticida para o controle de bicudo-da-cana-de-açúcar e a broca-do-café, insetos coleópteros e de difícil controle no campo. A tecnologia é resultado de seleção junto à Embrapa do isolado de Beauveria bassiana mais virulento para essas pragas. Em resumo, todos esses produtos se apoiam em cepas exclusivas da Bionat, registradas em parceria com instituições de pesquisa como a ESALQ e a Embrapa, o que reforça a diferenciação e competitividade da empresa no setor. 

2. Como funciona a seleção e validação de novos microrganismos para desenvolvimento de produtos? 

Nosso desenvolvimento de novos produtos parte do levantamento de problemáticas e oportunidades de soluções que podem ser geradas. Na primeira fase, a equipe de P&D da Bionat faz um levantamento com as instituições parceiras para conhecer os bancos de microrganismos e os potenciais desses. Essa busca pode considerar ou não de antemão um determinado gênero ou até espécie de microrganismo, com características específicas para uma maior eficácia do produto frente à problemática a ser solucionada. Por exemplo, diferentes cepas de uma mesma espécie podem apresentar ações completamente distintas. Assim, o que importa para o produto é a cepa utilizada e o que ela faz melhor que outras, e não necessariamente a espécie do microrganismo, apesar da espécie nos dar um bom direcionamento nas pesquisas. 

Uma vez selecionada e identificada a cepa, nosso laboratório recebe o microrganismo isolado e inicia os testes iniciais para posterior produção em larga escala. Estes testes iniciais atestam a eficácia do microrganismo como ativo de um novo produto biológico. Se a sua eficiência for comprovada, segue-se com outras análises para verificar a aplicabilidade do ativo, como a quantidade de propágulos viáveis e o tempo de prateleira, a fim de garantir um produto de qualidade e alto grau de eficácia aos produtores. Produto que entrega resultado no campo é nosso foco. 

3. Como a Bionat entende as gerações de produtos biológicos dentro do próprio portfólio? Como assegurar a exclusividade diante das crescentes modificações do mercado? 

A Bionat adota uma estratégia estruturada em diferentes tecnologias que podem ter um único microrganismo, a combinação de microrganismos ou a química de microrganismos, chamados de produtos à base de metabólitos microbianos. A divisão em gerações de produtos pode gerar mais confusão do que explicar a diferença entre elas, dando a entender que um produto da terceira geração (metabólitos) seria melhor que outro da primeira (único microrganismo), porém são apenas tecnologias que funcionam de modos diferentes. Nossa primeira geração inclui produtos exclusivos contendo isolados de Trichoderma, Beauveria e Metarhizium. Nesses produtos à base de propágulos dos microrganismos, aplicam-se doses baixas do formulado pois temos os produtos mais concentrados do mercado, otimizando transporte e armazenamento adequado até a sua aplicação no campo.  

A segunda geração envolve combinações de microrganismos, como o PEREGRINO, produto que mistura cepas exclusivas de Bacillus subtilis e Bacillus velezensis, utilizados no tratamento de sementes ou sulco de plantio com ação nematicida e fungicida. Estes produtos mantêm a sobrevivência dos esporos mesmo em presença de defensivos químicos, evidenciando a robustez e a confiabilidade das formulações contendo endósporos dessas bactérias. 

A terceira geração de produtos baseia-se em metabólitos microbianos. Identificamos e concentramos metabólitos produzidos por Bacillus com ação antifúngica, capazes de proteger folhas de plantas de maneira semelhante a fungicidas químicos convencionais. Essa abordagem permite aplicar doses menores e com viabilidade econômica, sem depender apenas da sobrevivência do microrganismo após aplicação. Nesse momento, temos uma tecnologia em fase de registro no MAPA para as principais doenças foliares em soja. 

Para assegurar exclusividade e competitividade, a Bionat investe em inovação, pesquisa e parceria com universidades e centros de pesquisa, além de manter um relacionamento sólido com consultorias e agricultores. Nosso foco é oferecer produtos de alta qualidade, que entreguem resultados comprovados no campo e se diferenciem das soluções de menor valor, consolidando nossa posição como referência em produtos biológicos no Brasil. 

4. Quais culturas e regiões brasileiras têm mostrado maior adesão aos produtos biológicos da Bionat? 

Entre as culturas em que atuamos, a soja se destaca como a campeã em termos de adoção de produtos biológicos. Quase 90% da produção de soja já utiliza inoculantes, um mercado bastante maduro. Para os biodefensivos, a soja também apresenta a maior representatividade, com amplo uso de bionematicidas e biofungicidas. Além da soja, o milho, o algodão e a cana-de-açúcar são as outras culturas que compõem o núcleo de atuação da Bionat. Também atuamos em café, embora a adoção de produtos biológicos ainda seja mais limitada nesse segmento, evidenciando a grande oportunidade de desenvolver esse mercado com novas tecnologias. No que diz respeito às regiões, o Centro-Sul do Brasil, além das culturas acima citadas, ganha destaque para áreas de trigo e citricultura, com crescimento na utilização de nossas tecnologias. No segmento de citros, por exemplo, já registramos uma solução voltada ao controle do psilídeo, que em breve será lançada e apresentada aos produtores. 

5. A Bionat ainda capta desafios culturais ou técnicos na adoção dos biológicos em larga escala pelos produtores? Quais estratégias a empresa tem praticado para ampliar essa utilização? 

A adoção em larga escala de produtos biológicos ainda enfrenta desafios culturais e técnicos, que variam de acordo com a cultura agrícola e a região do país. Nossa estratégia para ampliar o uso desses produtos está fortemente voltada à difusão de conhecimento técnico por meio do programa Biológico Não É Tudo Igual. Essa abordagem voltada à conscientização e educação do setor, permite gerar confiança e criar uma conexão sólida com produtores e parceiros. Internamente, investimos em capacitação contínua. Externamente, com esse programa promovemos workshops, palestras, cursos e outros eventos, buscando explicar conceitos fundamentais do controle biológico, visando melhorar a capacidade de escolha do setor para as mais de 700 tecnologias registradas apenas para controle biológico.  

Existe um desconhecimento sobre biológicos no mercado, o que pode levar a interpretações equivocadas sobre o funcionamento e a dosagem a ser aplicada. Para os biológicos, por exemplo, não se deve balizar os produtos somente pela precificação, sem considerar dose adequada ou manejo agrícola correto. Essa prática pode levar à subutilização ou desqualificação de produtos mais eficazes.  

Além disso, medir o efeito de produtos biológicos nem sempre é simples. Enquanto o controle de pragas pode ser observado de forma direta, os efeitos sobre crescimento e produtividade vegetal exigem comparações criteriosas, carecendo de acompanhamento técnico. Nosso foco, portanto, é combinar educação técnica, suporte contínuo e acompanhamento no campo para ampliar a adoção e garantir que os produtos biológicos entreguem os resultados esperados. 

 6. Como a Bionat posiciona seus produtos frente aos defensivos químicos?  

O posicionamento da Bionat em relação aos defensivos químicos envolve uma compreensão realista do mercado e do potencial dos produtos biológicos. Muitas vezes, há uma interpretação equivocada sobre a participação do segmento biológico no setor agrícola, especialmente quando se faz uma comparação direta com os químicos. 

Essa comparação, entretanto, não é adequada, já que os portfólios são distintos. Enquanto os defensivos químicos contam com herbicidas consolidados, ainda não existem bioherbicidas disponíveis comercialmente. Isso distorce a percepção sobre a relevância dos biológicos no mercado, levando a uma participação de cerca de 5% do mercado total de defensivos, equivalente a cerca de R$ 6 Bi. Se excluirmos os herbicidas, essa participação passa para cerca de 8% do mercado, considerando fungicidas, nematicidas e inseticidas. Isso é extremamente relevante, dado que a menos de uma década tínhamos cerca de 1% de representatividade.  

Na Bionat, enxergamos essas diferenças como oportunidades estratégicas. Estamos direcionando esforços para o desenvolvimento de bioherbicidas e investindo em tecnologias da primeira à terceira geração em insumos biológicos. Nosso posicionamento é oferecer soluções eficazes, seguras e sustentáveis, capazes de gerar resultados consistentes em campo e fortalecer a confiança dos produtores, ampliando a adoção dos biológicos na agricultura. 

 

Equipe Global Crop Protection, 02/09/2025

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