ENTREVISTA

Eduardo Leão – diretor-presidente da CropLife Brasil – comenta sobre o futuro do mercado de defensivos


Eduardo Leão – diretor-presidente da CropLife Brasil

1 – Quais os principais desafios e oportunidades para as indústrias de defensivos durante o ano de 2025?

A indústria de proteção de culturas enfrentou volatilidade e obstáculos regulatórios, mas demonstrou uma resiliência notável nos últimos anos. Apesar dos desafios contínuos, a indústria continua a se adaptar e crescer, impulsionada por fatores como demanda global, inovação tecnológica e a necessidade de práticas agrícolas sustentáveis.

As mudanças regulatórias, particularmente na União Europeia, estão impactando significativamente a indústria. Alguns produtos estão sendo eliminados gradualmente, criando uma necessidade de alternativas inovadoras com perfil toxicológico e ambiental cada vez melhor. As empresas estão investindo em pesquisa e desenvolvimento de produtos inovadores, seja químico ou de origem biológica, focando em agricultura digital e tecnologias de precisão para alinharem-se às regulamentações em evolução e as demandas dos consumidores.

A integração de tecnologias digitais, como agricultura de precisão, análise de dados e sensoriamento remoto, está revolucionando as práticas de proteção de culturas. Sensores inteligentes, drones e imagens de satélite permitem que os agricultores monitorem as culturas, detectem surtos de pragas e otimizem a aplicação de pesticidas com maior precisão e eficiência.

O controle químico de pragas continuará sendo empregado em conjunto com outras ações e tecnologias por meio do Manejo Integrado de Pragas (MIP). A grande questão é: como isso será entregue efetivamente aos agricultores em todo o mundo? O resultado mais provável é uma oferta combinada, cobrindo produtos químicos com serviços que entregam não ‘proteção de culturas’, mas ‘as melhores oportunidades para qualidade e altos rendimentos usando essas tecnologias convergentes.

2 – Quais são os próximos passos da CropLife Brasil para promover a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias?

Entendemos que um ambiente regulatório seguro e propício é fundamental para a promoção da inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias. Ele deve ter, necessariamente, políticas públicas transparentes, eficácia governamental e estabilidade para os negócios. Esse sistema previsível estimula um ciclo virtuoso de investimentos a médio e longo prazo e a evolução de produtos e processos, o que facilita a transferência de tecnologia e permite o acesso à inovação.

A P&D com inovação de ponta é um processo complexo, que demanda tempo de maturação e de adoção, bem como volumes de aportes elevados. Para que soluções sejam acessíveis, são precisos mecanismos que que assegurem segurança jurídica e retorno dos investimentos.

Quando falamos em previsibilidade, falamos de investimentos. No caso da indústria de tecnologia agrícola, por exemplo, que circulam na casa de US$ 500 milhões anuais para um novo produto, em uma corrida contra a evolução da resistência de pragas e doenças das plantas.

O Brasil, como país altamente competitivo na produção agrícola e um paraíso tropical para as pragas e doenças, demanda um ambiente regulatório avançado, que crie os estímulos necessários para o investimento em soluções mais eficientes e mais sustentáveis. O desenvolvimento das inovações hoje é fortemente condicionado pelas demandas ambientais, cada vez mais relevantes para a sociedade.

Mais que um desafio, a agricultura tem a oportunidade de protagonizar as mudanças necessárias para a preservação do planeta e da vida. Isso só será possível com um projeto nacional de inovação, garantido por um ambiente regulatório seguro, que atraia investimentos e transfira tecnologia para as pessoas.

3- Em relação ao crescimento do mercado de defensivos, qual é a perspectiva da CropLife para 2025? E para os próximos dez anos?

O Brasil é hoje referência mundial no desenvolvimento de tecnologias para o agronegócio, um dos poucos setores do país que exporta conhecimento e inovação. A pujança do setor tem atraído as atenções de forma geral, resultando em um dinamismo de negócios cada vez mais acelerado. Os insumos agrícolas são, portanto, fundamentais para viabilizar a produção agropecuária nacional.

Em relação à perspectiva, o setor de defensivos químicos deve manter os fortes investimentos em inovação para o desenvolvimento de produtos de menor impacto ambiental e maior eficiência agronômica.

Estudos que calculam o Índice de Impacto Ambiental (Environmental Impact Quotient-EIQ), ferramenta globalmente utilizada como indicador de risco associado ao uso de agrotóxico, mostram que produtos lançados nas últimas décadas apresentam menor toxicidade e risco para o meio ambiente e a saúde humana, em comparação com produtos mais antigos. Esta é uma tendência que continuará sendo observada ao longo dos próximos anos.

Além disso, o desenvolvimento e a introdução de novas moléculas permitirão aos agricultores utilizarem produtos com maior eficiência agronômica e, consequentemente, doses menores para alcançar o mesmo nível de controle desejado de pragas e doenças.

Esperamos fortemente que as autoridades regulatórias possam avaliar essas inovações em tempo mais célere, para que o agricultor tenha em mãos ferramentas cada vez melhores e o Brasil possa se consolidar cada vez mais neste cenário de agricultura competitiva e sustentável.

4 – Como a CropLife vê o futuro da agricultura diante dos desafios enfrentados com as mudanças climáticas?

Com o avanço da inovação e o fortalecimento de políticas públicas, que vão garantir previsibilidade e segurança jurídica para novos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, temos a chance de consolidar o país como líder global em práticas agrícolas sustentáveis.

Nas COPs, por exemplo, levamos os cases de sucesso brasileiros de adoção de bioinsumos e de agricultura regenerativa para conhecimento internacional e defendemos a participação da agricultura brasileira nos desafios globais de mitigação das mudanças climáticas e segurança alimentar.

Hoje, 30% da população mundial se encontra em condição moderada ou severa de insegurança alimentar. Estima-se ainda que o crescimento populacional será de 25% nos próximos 25 anos e o consumo de alimentos aumentará em 50%. Somado a isso, temos o aumento de 50% do consumo de energia no mundo e os desafios do aquecimento global. Para ajudar nessa difícil equação, é necessário o aumento da produtividade no campo.

Para isso acontecer, precisaremos da combinação de diferentes tecnologias, como o melhoramento genético, o uso de bioinsumos e defensivos químicos.

Com a oferta de produtos biológicos de alta complexidade e inovadores, o produtor rural percebe, por meio da complementariedade de tecnologias, eficiência agronômica na proteção dos cultivos contra pragas e doenças cada vez mais resistentes, além de ganhos econômicos e sustentáveis com práticas de agricultura regenerativa.

5 – Com a aprovação da Lei de Bioinsumos, como ela impacta o processo de registro e o mercado de defensivos biológicos?

A aprovação do Marco Legal de Bioinsumos foi fundamental para a promoção da inovação em um setor em pleno crescimento na agricultura brasileira. O Brasil foi o primeiro entre as grandes potências agrícolas mundiais a estabelecer uma lei distinta de fertilizantes e pesticidas, seja para a nutrição das plantas, seja para controle de pragas e doenças.

O próximo passo agora é a regulamentação da lei, que ocorrerá ao longo deste ano, e deverá estar alinhada aos protocolos internacionais de segurança reconhecidos por instituições como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As normas precisarão de diferentes nivelamentos para garantir segurança e eficácia tanto para produtos altamente tecnológicos, baseados em técnicas genéticas e moleculares, quanto para insumos de base natural mais tradicionais, como insetos e biofertilizantes.

A regulamentação deve ser uma ferramenta para impulsionar o desenvolvimento do mercado de inovação e atrair novos investimentos.

Nosso foco será assegurar que o processo regulatório seja eficaz e transparente, com a garantia da seleção de produtos inovadores, eficientes e seguros ao consumidor e o fortalecimento da posição do Brasil como líder mundial em práticas agrícolas sustentáveis.

6 – Considerando as categorias de bioinsumos (biodefensivos, biofertilizantes e bioestimulantes), como se espera o desempenho de cada uma delas nos próximos anos? E qual a estimativa de crescimento percentual para cada categoria?

De acordo com o último levantamento realizado pela CropLife Brasil, o mercado de bioinsumos no Brasil, incluindo produtos de controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores, cresceu 15% na safra 2023/2024, em comparação à safra anterior. Os produtos biológicos agrícolas comercializaram R$ 5 bilhões, considerando o preço final para o agricultor.

Nos últimos três anos, o mercado de bioinsumos agrícolas cresceu a uma taxa média anual de 21%, percentual quatro vezes acima da média global.

Um fator de destaque é o crescimento da taxa média de adoção de bioinsumos por área, da safra 2022/2023 para a safra 2023/2024, que subiu de 22% para 23% incluindo todos os segmentos: controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores.

Em biofungicidas saiu de 11% para 12%, bioinseticidas de 19% para 21%, bionematicidas de 24% para 25%, bionoculantes de 61% para 63% e solubilizadores de nutrientes de 3% para 4%, nos principais cultivos.

Quatro grandes fatores contribuem e devem sustentar o crescimento do mercado de bioinsumos no Brasil para os próximos anos: a contínua profissionalização e a expansão da indústria; o manejo integrado de defensivos químicos e produtos biológicos com efeito positivo para o controle de pragas e doenças cada vez mais resistentes na agricultura tropical; o aumento da adoção entre os produtores; e as novas formulações e tecnologias em produtos biológicos, contendo cada mais múltiplos microrganismos e uma ampla gama de alvos.

As soluções bacterianas continuarão a dominar o mercado na próxima década, embora os produtos derivados de vírus e fungos aumentem a participação no mercado.

 

Equipe Global Crop Protection, 07/04/2025

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