ENTREVISTA

Prof. e pesquisador Mauro Osaki fala sobre problemas na cadeia do Glifosato


Mauro Osaki. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos, Mestre em Ciência Econômica Aplicada pela Escola Superior da Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo e Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Paraná. Técnico Especialista Superior do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA/ESALQ, concentrando os estudos na área de pesquisa de gestão de propriedade rural e análise do panorama de mercado do setor de grãos e fertilizantes. Membro do Agribenchmark Cash Crop apoiada pelo instituto Johann Heinrich von Thünen-Institut (vTI) da Alemanha. Palestrante, conferencista, debatedor em inúmeros eventos em todo o Brasil e no exterior. Autor de artigos publicados no Brasil. 

 

1. O que é o Glifosato? Para que é usado? Quais as principais culturas que utilizam este defensivo? 

Trata-se de um herbicida amplamente utilizado no controle de plantas invasoras para as culturas anuais e perenes. Com o advento do evento da transgenia, a cultura da soja e do milho são os principais demandantes desse herbicida. 

2. O que aconteceu para o aumento expressivo do preço do Glifosato? 

A notícia que se tem é que muitas fábricas chinesas foram fechadas pelo governo para contornar o problema energético daquele país. Algumas fábricas tiveram problemas com enchentes, mas predominantemente a interrupção na produção de defensivos agrícolas gerou um certo desabastecimento global. 

3. Ele é um produto substituível? 

Não de forma perfeita, mas é possível controlar as plantas invasoras das lavouras com outros produtos, porém com a elevação no custo de produção. 

4. Este aumento de preços irá afetar a safra 21/22? E quanto a safra 22/23? 

Para a safra 21/22 o efeito da alta não foi tão grande, pois a compra foi feita no primeiro semestre de 2021, mas para a próxima temporada devemos registrar uma forte alta no preço de compra desse herbicida para quem conseguir comprar. Por exemplo, o produtor costumava comprar o glifosato 720 WG ao preço médio de R$ 28-32/kg (primeiro trimestre) e no final de 2021 o valor do mesmo produto varia de R$ 90-150/kg, um aumento de 3-5 vezes mais caro, dependendo do local e oferta do produto. 

5. Ainda referente a substituição do Glifosato, outros herbicidas dessecantes também estão com cenário de aumento de preço. Qual seria atualmente a melhor opção de substituição do Glifosato, ou a mais utilizada nesse cenário incerto? 

Anteriormente só não se usava outros herbicidas pois o Glifosato era muito barato. Hoje esses outros produtos ganharam concorrência, isso vai abrir um leque muito amplo de opções para o produtor. O problema é que o Glifosato era uma ferramenta barata, e agora entramos com produtos mais caros, o que elevará o custo de produção. Para uma cultura exportadora como a soja, é mais fácil neutralizar essa relação, que até consegue ter uma conta positiva por ser negociada em dólar. Já para as culturas com destino ao mercado doméstico, teremos mais problemas, devido ao aumento no custo e negociação em reais. Sobre a substituição em si, se me perguntam ‘Que tipo de molécula o produtor vai usar?’ a resposta é ‘Aquela que tecnicamente apresentar o melhor custo-benefício!’. 

6. Na sua visão, como o Brasil pode atuar de forma mais efetiva na redução da dependência das importações desses produtos? 

Primeiramente é importante dizer que ao assumir uma estrutura de livre mercado, se houvesse produção no Brasil, o preço estaria equiparado ao mercado internacional. Agora, se o governo intervir no mercado, alguém tem que pagar a diferença para manter a viabilidade da atividade da indústria de iniciativa privada competitiva. Mas de forma geral, para se estimular a indústria agroquímica, o Brasil precisa de um sistema tributário mais simples, infraestrutura mais desenvolvida e um ambiente de negócios mais favorável aos investidores.  

7. Você trabalha com palestras e suporte ao produtor rural. Como o aumento da profissionalização do produtor rural pode contribuir para a diminuição do custo de produção e aumento da produtividade? 

Antigamente havia um ditado ‘Se você não estudar vai parar na roça’ e este não faz mais sentido pois, atualmente, só sobrevive na roça quem tem conhecimento. O campo hoje possui muita tecnologia desde a semente até a máquina, além da necessidade de entender a dinâmica do clima, da fertilidade do solo, das doenças e/ou pragas (novas ou conhecidas), do mercado de insumos e do produto agrícola, e é por isso que o produtor precisa se equipar de conhecimento, informações, consultores, profissionais da área e tudo o que puder para garantir a produtividade, diminuição dos custos e proteção de margem. 

 

Fonte: Equipe Global Crop Protection, 31/01/2022

Fonte da Imagem: Pixabay

 

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