ENTREVISTA

Reinaldo Bonnecarrere – Diretor de Biológicos da Indigo fala sobre mercado inovador de biodefensivos


Sobre Indigo Ag

A Indigo Ag é líder inovadora e parceira confiável em agricultura sustentável, aproveitando de forma única a ciência e a tecnologia para transformar a sustentabilidade em valor para agricultores, agronegócios e corporações.

Reinaldo Bonnecarrere – Diretor de Biológicos da Indigo – engenheiro agrônomo, Mestre em Nutrição de Plantas e Doutor em Fisiologia dos Cultivos Agrícolas.

 

1. Como vocês projetam o mercado de biológicos no Brasil nos próximos anos? E no mundo?

A demanda global por práticas agrícolas mais sustentáveis tem sido motor para uma acelerada evolução em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias biológicas para a produtividade e a sanidade dos cultivos.

As tecnologias biológicas hoje disponíveis no mercado são capazes de promover o desenvolvimento de plantas mais saudáveis, produtivas e resistentes às variações climáticas e a doenças e pragas, com redução de demanda por insumos químicos. Além disso, têm papel especial nas práticas regenerativas de áreas degradadas ou de baixo rendimento, por promoverem a melhoria da qualidade e fertilidade dos solos por meio da fixação de nitrogênio e outros nutrientes, aumentando o potencial produtivo das lavouras e tornando-as mais rentáveis, competitivas e sustentáveis. Fatores particularmente importantes em um país como o Brasil, que possui uma grande extensão de terra cultivável, mas que também enfrenta desafios significativos em termos de degradação do solo e mudanças climáticas.

Segundo a IHS Markit (2021), o mercado de produtos biológicos de controle no Brasil cresceu a uma taxa anual de 42%, colocando o Brasil na posição de líder mundial na utilização desses produtos. A projeção é que em 2030 este setor alcance R$ 16,9 bilhões, considerando uma taxa de crescimento acumulada CAGR de 35% até 2025 e de 25% até 2030. Safra a safra, podemos contatar esse crescimento pela adoção de produtos biológicos.

A nível mundial, em 2019 a América do Norte ocupou grande espaço do mercado de biológicos com aproximadamente 37% do mercado, sendo os Estados Unidos responsáveis por metade desse crescimento. No Canadá existe uma alta na demanda por produtos biológicos de controle, devido, principalmente, a mudanças recentes na legislação que regem o uso de defensivos químicos no país.

Em todo o planeta, o mercado de produtos biológicos movimentou mais de US$ 5 bilhões em 2020, segundo dados da Dunham Trimmer, empresa especializada em informações do mercado de biológicos. Desse total, US$ 800 milhões são oriundos do agronegócio da América Latina.

2. Atualmente, qual é o país que mais produz e qual é o que mais consome os bioinsumos? por quê?

Com base no índice de países que mais consomem bioinsumos, o Brasil se destaca como o principal produtor e consumidor desses insumos para a agricultura em escala global. Essa posição privilegiada é atribuída à extensão de sua área cultivada, à constância das safras nessas plantações e às condições climáticas favoráveis. Por conta de todas essas intempéries, a produção agrícola é fortemente dependente do controle eficaz de doenças, pragas e ervas daninhas, onde o mercado de bioinsumos tem desempenhado um papel crucial nos últimos anos.

O crescimento notável desse mercado é evidenciado pelo aumento significativo no número de produtos biológicos registrados no Brasil, que passou de apenas 1 em 2005 para 482 até fevereiro de 2023. Para cada doença de planta relevante, como a ferrugem asiática da soja, a ferrugem do cafeeiro e o mofo-branco, já existe pelo menos um produto de biocontrole registrado.

Juntamente à integração entre os elos da cadeia produtiva, o Brasil alcançou alto nível de competência nos últimos anos, refletindo em uma produção de alta qualidade com sustentabilidade. Avançamos significativamente na aplicação combinada de tecnologias para manter as plantas protegidas de pragas e doenças, à medida em que constatamos que, isoladamente, grande parte das soluções existentes já não eram suficientes para oferecer o nível de proteção que as plantas precisam para expressar seu potencial genético. Crescia, assim, o risco de perdas de produtividade pela falta de soluções eficazes. E de perda de espaço em mercados mais exigentes (e mais remunerativos), pela falta de processos sustentáveis. Os insumos biológicos entraram em cena para preencher essas lacunas nas práticas agrícolas convencionais, e em alguns casos, a exemplo dos bionematicidas, tornaram-se a principal escolha dos agricultores.

Em 2020, o uso de nematicidas biológicos no Brasil totalizou R$ 750 milhões, e em 2022, esse valor ultrapassou R$ 1,5 bilhão. Em apenas dois anos, a taxa de adoção de bionematicidas na agricultura dobrou, principalmente devido à conscientização sobre os benefícios contínuos do manejo biológico no controle de nematoides, juntamente com o avanço tecnológico alcançado pelas empresas, resultando em soluções mais eficazes e rentáveis para os produtores.

3. Existem 2 grupos de controle biológico (macro e micro). Qual desses a Indigo utiliza e por que são efetivos?

A Indigo desenvolve biológicos de alta performance a partir de microrganismos endofíticos –seres microscópicos, como bactérias e fungos, que vivem dentro dos tecidos de plantas há milênios, em uma relação simbiótica em que ambos se beneficiam. Diferentemente dos microrganismos epifíticos, que vivem na superfície dos órgãos e tecidos vegetais, os endofíticos são verdadeiros bioindicadores de vitalidade, capazes de produzir antibióticos e, ainda, capazes de abrir novos horizontes à ciência, ao atuar como vetores para introdução de genes em plantas hospedeiras.

Como citamos, na aplicação em produtos biológicos na agricultura, os organismos endofíticos têm se destacado como agentes biocontroladores (biodefensivos) e biofertilizantes. Como biodefensivos, eles são capazes de produzir substâncias antimicrobianas ou estimular as defesas naturais das plantas, ajudando a protegê-las contra patógenos, pragas e estresses ambientais e, assim, contribuindo para o controle de doenças com importante redução do uso de defensivos químicos. Como biofertilizantes, eles promovem o crescimento e a saúde das plantas, aumentando a absorção de nutrientes e melhorando a resistência a condições adversas. Os microorganismos endofíticos podem também fixar nitrogênio atmosférico, solubilizar fosfatos inorgânicos e produzir substâncias de crescimento vegetal, como hormônios e enzimas, que beneficiam o desenvolvimento das plantas. Desta maneira, aumentando a disponibilidade de nutrientes e melhorando a estrutura do solo, contribuem para a saúde das plantas, do solo e do ambiente como um todo.

4. Pensando na agricultura tradicional, em que a maioria dos produtores utilizam mais o defensivo químico, eles estão preparados para utilizar os defensores biológicos? Como vocês tem visto a adesão dos produtores aos produtos biológicos?

O agronegócio está testemunhando uma nova geração de produtores que está revolucionando a forma de se fazer agricultura. Esses novos protagonistas mostram-se mais receptivos às novas tecnologias e comprometidos com uma produção mais sustentável, conquistando uma posição de destaque no cenário agrícola. Entre as inovações tecnológicas que têm se destacado nos últimos anos, os produtos biológicos surgem como uma alternativa promissora, capazes de complementar e, em certos casos, reduzir consideravelmente a dependência de produtos químicos, o que traz uma série de benefícios para a agricultura.

Diante disso, o uso de produtos biológicos combinados com produtos químicos tem despertado grande interesse, levando muitas empresas a investirem em pesquisa e desenvolvimento nessa área, criando produtos biológicos altamente eficazes para o agronegócio contemporâneo.

É compreensível que alguns produtores rurais resistam à substituição, ainda que parcial dos produtos químicos pelos biológicos. Mesmo com evidências comprovando os resultados positivos, muitos ainda precisam se convencer da eficácia desses novos produtos. Por isso, a Indigo disponibiliza uma equipe de campo especializada para oferecer suporte aos produtores rurais em todas as etapas, desde a compra até a colheita, garantindo a eficácia e a adoção adequada dessas tecnologias.

O Brasil possui uma extensa área dedicada à agricultura, com uma grande proporção de pequenos produtores. No entanto, à medida que a nova geração assume papéis-chave no agronegócio, a aceitação de novas tecnologias ocorre de forma natural. Essa tendência também está alinhada com a agricultura de precisão. Estudos demonstram que 28% dos produtores com até 30 anos são usuários avançados de tecnologia agrícola, em comparação com apenas 2% dos produtores com mais de 60 anos.

Graças ao aumento do número de jovens produtores, as previsões indicam que a adoção da agricultura de precisão aumentará em cerca de 40% nos próximos 5 anos em todo o Brasil. A região do cerrado deverá crescer 35%, o sudeste 41% e o sul 43%. 

Mais do que incentivar a adoção dos biológicos, talvez o maior desafio para este mercado seja fazer com que o produtor entenda que estes produtos não precisam ser apenas uma alternativa em momentos de crise, mas que podem, e devem, ser incorporados em definitivo ao sistema de produção, com inúmeros ganhos em resiliência, produtividade, rentabilidade e em sustentabilidade.

5. Pensando no fenômeno La Niña que deve ocorrer no segundo semestre de 2024, como o setor de biológicos sentirá o impacto para a safra de 24/25?

De acordo com dados da previsão climática, o período compreendido entre os meses de julho e agosto, há grande possibilidade de ocorrer o início do fenômeno La Niña. Esse fenômeno pode representar impactos significativos no agronegócio brasileiro. Quando ativo, o La Niña resulta em menos chuvas na região Sul e mais precipitação nas áreas do Norte e Nordeste. A iminência desse novo fenômeno alerta para a possibilidade de estiagens adicionais, destacando a importância dos produtos biológicos como aliados para os agricultores.

O manejo a partir do uso de biológicos, além de aumentar a proporção de produtos renováveis, também aprimora a eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas e apresenta benefícios positivos para o meio ambiente. O uso de bioinsumos emerge como uma alternativa crucial para mitigar os gases de efeito estufa, abrindo novas perspectivas para aprimorar a sustentabilidade agrícola em um contexto de mudanças climáticas, devido ao seu papel multifuncional e ausência de efeitos prejudiciais nos habitats naturais.

Nesse contexto, suas contribuições incluem: incremento do crescimento radicular, possibilitando uma melhor absorção da água disponível pelas plantas; aprimoramento dos atributos físicos e químicos do solo; redução do uso de fertilizantes químicos à base de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), tanto pelo fornecimento de nutrientes pelos microrganismos quanto pelo aumento da eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas; e indução do sistema de defesa das plantas.

6. Diante de alguns desafios, como o tempo de prateleira (validade do produto), armazenamento, temperatura, umidade, como o setor tem se desenvolvido para que os produtos possam ser utilizados de forma eficiente em campo?

Com crescente investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, a indústria de biológicos inova e domina os diversos desafios da cadeia produtiva e de logística, chegando a formulações cada vez mais práticas, duráveis e eficientes.

Contudo, é preciso lembrar que os microrganismos são seres vivos, e precisam estar saudáveis e em boas condições para que seu papel final de proteção e desenvolvimento da lavoura seja satisfatório. Por isso, sempre demandará um manejo adequado à sobrevivência dos microrganismos e de sua multiplicação até o momento do estabelecimento junto a lavoura. São inúmeras as armadilhas e riscos que os agentes biológicos dos inoculantes, por exemplo, enfrentam desde sua produção até sua deposição no campo. É preciso seguir rígido controle do processo de produção e da qualidade do produto final. Em seguida, atenção ao transporte/armazenamento, que também podem afetar a eficácia do produto. E mesmo já dentro da propriedade, no momento da aplicação desses insumos, o manejo eficiente pode fazer toda a diferença nos resultados alcançados pelos bioinsumos.

7. Quais são as vantagens e desvantagens dos defensivos biológicos?

A utilização de bioinsumos na agricultura é essencial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável para a produção de alimentos. Para alimentar uma população mundial em crescimento exponencial, precisaremos crescer em 70% a produção até 2050, com mínimo de avanço em áreas cultiváveis e máxima preservação de recursos naturais.

O setor agropecuário precisa contar, portanto, com sistemas e tecnologias produtivas capazes de garantir adaptabilidade, produtividade e sustentabilidade. Nesse contexto, os bioinsumos já se destacam, há alguns anos, promovendo o equilíbrio dentro da produção agrícola. Os biológicos representam não apenas uma ferramenta tecnológica para o manejo das plantações, mas também um instrumento de impacto positivo na produtividade, equilíbrio do sistema produtivo, preservação do meio ambiente e garantia de que a segurança alimentar está sendo levada em consideração.

O controle biológico parte de uma estratégia que visa estabelecer um equilíbrio entre as pragas e seus predadores naturais. Os bioinsumos favorecem a saúde do solo, aumentando os níveis de matéria orgânica ao longo do tempo e ajudando na recuperação de áreas degradadas ao disponibilizar macro e micronutrientes essenciais para o crescimento das plantas. Essas soluções biológicas também melhoram a eficiência da adubação, reduzindo a lixiviação de nutrientes e contribuindo para a saúde dos cursos d’água e dos lençóis freáticos.

Esta abordagem reduz para zero a probabilidade de afetar organismos não alvo, uma vez que os produtos são derivados de seres vivos. Além disso, o uso de produtos biológicos não deixa resíduos tóxicos no ambiente, evitando a contaminação do solo, da água e, consequentemente, protegendo a saúde do agricultor. Outra vantagem para utilizações dos defensivos biológicos é a promoção do equilíbrio dos sistemas agrícolas e proteção de insetos benéficos, como os predadores naturais das pragas e as abelhas, que estão ameaçadas em várias regiões do mundo. São, portanto, inúmeras as vantagens dos biológicos, sem desvantagens ou contrapontos à sua ampla utilização e popularização. A agricultura sustentável é uma realidade e o futuro do agro já está em campo!

 

Equipe Global Crop Protection, 05/04/2024

Fonte da imagem: Freepik

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