USO E APLICAÇÃO

Manejo integrado auxilia no controle da resistência a herbicidas no Brasil


O tratamento ineficiente de ervas daninhas pode danificar gravemente as lavouras e causar perdas econômicas significativas. O desafio atual é a resistência das ervas daninhas aos herbicidas, o que acarreta custos mais elevados para o agricultor.

Pedro Jacob Christoffoleti escreveu à AgriBrasilis sobre a resistência das ervas daninhas aos herbicidas. Christoffoleti é engenheiro agrônomo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP, Doutor em Fitotecnia, pela Esalq – USP, além de professor, pesquisador e extensionista.

O objetivo do manejo de ervas daninhas no Brasil é reduzir os distúrbios negativos ao rendimento potencial da cultura. Para tanto, adotamos medidas de gestão abrangentes, como meios culturais, mecânicos e físicos. Os herbicidas são a principal ferramenta da agricultura tradicional para atingir esse objetivo, devido à sua conveniência e custo adequado. No entanto, a ferramenta deve ser usada de forma eficaz, com uma ampla gama de controle de espécies de ervas daninhas, seletividade e consideração de sustentabilidade econômica e ambiental.

Em 2019, o Brasil consumiu um total de 369.578,94 toneladas de herbicidas, representando 59,56% do total das vendas nacionais de produtos fitossanitários. Entre as variedades mais vendidas, o glifosato ficou em primeiro lugar com um total de 217.592,24 toneladas, seguido pelo 2,4-D com um total de 52.426,92 toneladas. O quinto herbicida é a atrazina, que foi usada em 2019 com 23.429,38 toneladas.

Ao contrário, a produção agrícola de alimentos do Brasil também teve um aumento surpreendente. De 1975 a 2017, a produção de cereais aumentou de 38 milhões de toneladas para 236 milhões de toneladas, um aumento de mais de seis vezes, enquanto a área de plantio apenas dobrou. Pelas variações da produtividade média do arroz, feijão, milho, soja e trigo, percebe-se que o aumento da produtividade é maior do que o aumento da área.

No meio agrícola do Brasil, quase toda a região utiliza lavouras geneticamente modificadas resistentes ao glifosato, e a resistência de ervas daninhas aos herbicidas tem se tornado um grande desafio para seu manejo. O Brasil registrou 53 casos de resistência inédita de plantas daninhas a ACCase, ALS, EPSPS, fotossistema I e II, Protox (PPO) e auxina sintética. O mais preocupante são, sem dúvida, os 19 casos de resistência ao glifosato, 9 dos quais são multirresistência. Dentre os tipos de ervas daninhas resistentes ao glifosato, destacamos o amaranto, eupatorium adenophorum, longan, cravo, solidago canadensis, Sumatra, rehmannia glutinosa, equinococo, citronela, euphorbia e azevém.

O primeiro caso de resistência ao glifosato foi encontrado em azevém perene no Rio Grande do Sul, Brasil, em 2003, seguido pelos cravos em 2005.

O primeiro caso de multirresistência também foi encontrado em 2010. Ambos os inibidores de ACCase e glifosato são resistentes ao azevém. O caso mais preocupante ocorreu em 2017. Desenvolveu resistência a 5 mecanismos de ação, a saber, grama Sumatra, ao glifosato, diuron, paraquat, 2,4-D e herbicidas de cártamo. (Heap, 2021)

No entanto, atualmente, os produtores de alimentos mais problemáticos são a resistência de Cassia insularis, além das três ervas daninhas do gênero Amaranthus.

A resistência das ervas daninhas aos herbicidas inibidores de ALS remonta a 1993, quando tive a oportunidade de comprovar a resistência de Bidens a esse mecanismo de ação. No entanto, a introdução do glifosato geneticamente modificado resistente resolveu esse problema. Da mesma forma, a resistência das gramíneas detectada na banana-da-terra ( Uroocholoa plantaginea ) aos inibidores de ACCase (que era um grande problema no passado) desde 1992 também foi resolvida por OGM.

No entanto, a resistência ao glifosato tornou-se um problema, especialmente quando combinado com inibidores de ALS e ACCase. Nesse caso, o esquema de controle recomendado é mais complicado. Esses cinco mecanismos de ação foram encontrados até mesmo em populações de Sumatra que são resistentes a diuron, ácido de cártamo, glifosato, clorimuron-metil e paraquat. O amaranto, que é resistente ao glifosato, também é resistente aos inibidores de ALS. Obviamente, ervas daninhas que são difíceis de controlar com glifosato devem ser difíceis de controlar.

Além disso, o estado de Mato Grosso também foi invadido por A. palmeri, uma planta daninha exótica do Brasil, cuja disseminação foi retardada devido às medidas de contenção efetivas tomadas pelo Ministério da Agricultura do estado.

Por outro lado, o amaranto se adaptou para crescer no Brasil e a existência de populações resistentes no sul também preocupa os agricultores. Desde 2009, Goosegrass indiana (Goosegrass) tem sido testado para resistência aos inibidores de ACCase, e recentemente foi testado para resistência da população ao glifosato.

A falsa erva-botão-arbustiva (Permacoce verticillata L.) sempre foi um grande desafio para os produtores de grãos, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Cerrado do Brasil. A classificação dessa erva daninha é difícil e muitos pesquisadores a classificam como uma grama vertical botânica. Existem sinais de que outras espécies são mais difíceis de controlar. Além da tolerância ao glifosato, os herbicidas 2,4-D não conseguem controlar essa erva daninha e até têm efeito antagônico sobre o glifosato.

Outro problema enfrentado pelos agricultores é a proibição de aplicar paraquat antes da colheita da soja, o que reflete o manejo e a prevenção da resistência de ervas daninhas. Essa medida é responsável por remover as ervas infestadas na fase posterior. As alternativas são a baixa disponibilidade no mercado ou outros herbicidas com diferentes mecanismos de ação.

Também envolve o controle de voluntários de safras anteriores. A soja é seguida pelo milho ou algodão, e essas três safras são geralmente utilizadas como variedades resistentes ao glifosato, o que complica o manejo da soja.

Adotar uma estratégia proativa é, sem dúvida, a melhor maneira de evitar que a resistência das ervas daninhas evolua para um sistema de produção. No entanto, esse problema já afetou as propriedades de muitos agricultores, e medidas precisam ser tomadas.

Na melhor estratégia, deve haver uma variedade de culturas e herbicidas. Essa estratégia reduz a pressão de seleção que é forçada a resistir às populações de ervas daninhas.

Algumas áreas no Brasil têm a possibilidade de plantio, com safra máxima de 2,5 safras por ano, o que permite a diversificação das safras, o que é claro a base para medidas preventivas ativas e manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas.

Porém, o aspecto mais importante desse sistema é deixar a cobertura morta na entressafra após a segunda safra. Assim como no centro e norte do Brasil, a braquiária pode ter um papel fundamental neste processo.

Outro método de manejo que ajuda os agricultores a suprimir ervas daninhas resistentes a herbicidas é misturar o milho colhido duas vezes com grama oolong, o que leva à formação de talos na superfície do solo durante o pousio. Portanto, em um sistema que evita a competição com outras plantas, o capim-braquiária e o milho são plantados. Além disso, após a colheita do milho, o capim-braquiária pode manter a vegetação até que se forme biomassa suficiente. Depois que a palha seca, ela inibe a remoção de ervas daninhas. Os agentes são resistentes às ervas daninhas.

A segunda abordagem adotada no Brasil ajuda a desacelerar ou mesmo controlar efetivamente ervas daninhas resistentes a herbicidas, mesmo com herbicidas de pré-emergência/pós-emergência relacionados a organismos geneticamente modificados resistentes ao glifosato. Quando os herbicidas são aplicados às ervas daninhas antes que elas ocorram, os herbicidas podem controlar as sementes, promover a vantagem competitiva das safras, aparecer antes das ervas daninhas e evitar a competição precoce (até as ervas daninhas aparecerão antes que as safras cresçam). Além de tornar a aplicação de herbicidas seletivos mais flexível após a emergência, os herbicidas de pré-emergência também fornecem um mecanismo de ação diversificado.

No entanto, nesta prática, os agricultores devem entender certos comportamentos dos herbicidas no solo e na palha em sistemas de plantio direto, caso contrário, eles podem enfrentar problemas de seletividade e eficiência do herbicida. É por isso que a taxa de penetração atual dessa prática ainda é muito baixa. Precisamos propor novas tecnologias ou inovações nas tecnologias existentes, principalmente novas tecnologias ou inovações relacionadas a combinações e formulações de herbicidas, para que o uso de herbicidas residuais se torne gradativamente uma ferramenta eficaz para o manejo de plantas daninhas resistentes.

O Brasil também introduziu novos organismos geneticamente modificados, como herbicidas resistentes às auxinas. Do ponto de vista agrícola, isso sem dúvida ajudará no manejo das ervas daninhas dicotiledôneas no sistema, mas precisamos superar os desafios trazidos por essas tecnologias, incluindo as melhores práticas na aplicação da tecnologia e questões de deriva e volatilização.

Evitar a produção de sementes de ervas daninhas resistentes a herbicidas é certamente uma medida considerada pelos agricultores, embora seja de difícil implementação. A orla das terras agrícolas ou a estrada podem ser usadas como fonte de resistência à propagação de ervas daninhas. Além disso, por ser o Brasil um país de escala continental, o transporte de máquinas e equipamentos pelo país exige um melhor planejamento para evitar a disseminação de plantas daninhas resistentes aos medicamentos. Da mesma forma, as fronteiras com outros países produtores de alimentos, como Paraguai e Argentina, têm sido foco de entrada de ervas daninhas resistentes no país. Por exemplo, a grama introduzida de duas orelhas (Cratagrass) e o amaranto verde (amaranto com espiga verde). A recomendação de um sistema de produção para a prevenção e manejo de ervas daninhas resistentes a herbicidas é simples: diversidade do sistema. Diversidade significa que o uso de herbicidas não só tem diferentes mecanismos de ação, mas também diferentes culturas, e o cultivo isolado não pode atingir bem esse objetivo. Seguir as melhores práticas agrícolas contribui para a sustentabilidade da produção.

“Fazendeiros amigos, façam rotação de culturas, usem herbicidas com diferentes mecanismos de ação, sigam a dosagem recomendada e controlem após a colheita para evitar o enriquecimento do pool de resistência das sementes de ervas daninhas. Tomar medidas preventivas”.

Fonte: JSPPA, 19/07/2021

Fonte da Imagem: Imagem de Charles Echer por Pixabay.

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