USO E APLICAÇÃO
Novo inseticida pode inibir picada do mosquito da dengue
Novo inseticida pode inibir picada do mosquito da dengue
Os meses do verão trazem condições ideais para a proliferação de um inseto que tem sido o principal vilão do país: o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Segundo dados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), somente em 2013, mais de 200 mil casos da doença foram registrados no Brasil.
A ação mais simples para preveni-la é impedir o nascimento do pernilongo, evitando o acúmulo de água parada. Há, porém, chances de a larva não ser combatida e o mosquito atingir a idade adulta. Nesse caso, o uso de inseticidas pode ser necessário, principalmente em situações de epidemia. A grande questão que, até o momento, coibia o uso do produto ou questionava sua eficácia, é que as marcas disponíveis no mercado brasileiro, levam, em média, 24 horas para eliminar o inseto. Durante este período, qualquer pessoa fica exposta à picada e corre o risco de desenvolver a doença.
Para mudar esse quadro, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram, recentemente, um novo inseticida que pode inibir a picada do mosquito. A novidade está na pimetrozina, antes utilizada somente no controle de pragas agrícolas. A substância age no aparelho bucal de insetos sugadores como pulgões, cigarrinhas, tripés, e Aedes aegypti, impedindo a sucção de sangue.
Testes realizados com fêmeas do pernilongo contaminadas pelo tóxico comprovaram que, por cerca de 50 minutos, elas tentaram introduzir seus estiletes na pele sem obter êxito, morrendo após esse período, seja por exaustão ou pelo efeito do produto. Segundo Octávio Nakano, professor sênior do Departamento de Entomologia e Acarologia (DEA) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqUSP), a grande diferença entre esse e outros inseticidas comuns, está no princípio de combate. “São características diferentes. Quando contaminado com a pimetrozina, o mosquito fica incapaz de picar (a pessoa) e transmitir a doença.
O princípio levará no máximo 30 minutos para fazer efeito e, por mais que o mosquito demore a morrer, a picada será inofensiva”, explica.
Além de combater o pernilongo na forma adulta, o inseticida também atua sobre as larvas que vivem na água, o que possibilita o uso do produto em áreas de foco, como caixas d”água, garrafas vazias, vasos de planta e latas de lixo. “Elas morrem alguns dias depois de expostas”, afirma o professor.
Período de testes
Para que o uso da substância seja liberado, é preciso que a técnica passe por testes de campo e fique comprovado que não trará riscos à saúde humana. Feito isso, a descoberta poderá abrir novos caminhos na erradicação de outras moléstias transmitidas por insetos. “A observação de que a pimetrozina pode afetar os mosquitos abre também caminho para sua avaliação sobre outros tipos de dípteros como as moscas sugadoras de sangue, como a mosca do chifre, do estábulo e outras espécies”, conclui Nakano.
Quando a etapa de testes for concluída, a recomendação é de que o inseticida seja usado na forma de fumigação o famoso “fumacê”. Isso porque, segundo o professor, “a pimetrozina demonstrou maior eficiência na medida em que se eleva a temperatura”.
Para o entomologista Fabiano Carvalho, da FiocruzMG, o uso do inseticida é uma medida interessante quando há falha na eliminação do criador ou em casos de surto do mosquito. Ele lembra que o uso da raquete, por exemplo, é uma medida apenas paliativa, já que “ninguém ficará 24 horas responsável pela matança”. Assim, cuidados básicos de prevenção continuam sendo a melhor forma de combate ao mosquito da dengue (ver infográfico).
Zona de perigo
Em todo o Brasil, a região Sudeste é a que contabiliza maior número de casos da doença, respondendo por 63,4%, ou 936.500 ocorrências, segundo dados da Rede de Ações Integradas de Atenção à Saúde no Controle da Dengue. Também segundo a pesquisa, 47,9% dos focos estão dentro das próprias residências.
Fonte: Alessandra Alves | Saúde Plena
21/01/2014