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A cana com desempenho inferior nesta safra


Na cana, até o dia 01 de julho de 2022, a moagem acumulada de cana-de-açúcar da safra 2022/23 na região Centro-Sul havia alcançado 187,61 milhões de t, valor 11,68% inferior àquele constatado no mesmo período do ciclo passado, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). 253 unidades se encontravam em atividade até então, 6 a menos que no ciclo 2021/22, mas outras duas plantas devem iniciar a moagem na segunda quinzena do mês.

Com relação à qualidade da matéria-prima colhida, o teor acumulado de ATR apresentou retração de 4,35% no comparativo com o ciclo passado, alcançando o valor de 127,28 kg/t. Já no monitoramento da produtividade dos canaviais, divulgado pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) de forma preliminar, constatou-se um aumento de 1,1% no rendimento agrícola no mês de junho, atingindo 77,4 t por hectare, contra 62,4 t por hectare do mesmo mês de 2021.

Estudo da Brasilcom aponta que poderemos ter um déficit no mercado de Créditos de Descarbonização (CBios) a partir de 2024. A meta de aquisição dos títulos por parte dos distribuidores para o respectivo ano é de 50,8 milhões, enquanto que o potencial de geração está estimado em 52,2 milhões, considerando um cenário em que todas as usinas estejam certificadas no RenovaBio. A tendência é que esses números se aproximem, gerando lacunas de oferta. Há risco do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) flexibilizar as metas, trabalhando dentro de um intervalo mínimo de 42,31 milhões para 2024, e também há a possibilidade de aproveitar os créditos não utilizados nos anos anteriores para compensação. Vamos torcer para que as usinas continuem comprometidas com o programa e consigamos suprir a oferta pré-estabelecida!

Em mais uma movimentação no mercado, Vibra e Copersucar lançaram uma joint-venture dedicada à comercialização de etanol tanto no mercado doméstico como no internacional, a Evolua Etanol. A nova empresa, de gestão independente, inicia sua operação com metas audaciosas de vender 9 bilhões de litros em um único ano.

Abrindo caminho para diversificação e sustentabilidade, a Cocal iniciou as operações de sua planta de CO2 food grade. A unidade, que recebeu aporte de R$ 25 milhões e está localizada em Narandiba – SP, é capaz de fornecer o gás carbônico demandado pela indústria alimentícia, o qual passa por processo de retirada de impurezas, odor e umidade, e é convertido para o estado líquido. No ciclo 2022/23, a Cocal deve produzir 16 mil t de CO2 food grade, além de 720 mil t de açúcar, 400 milhões de litros de etanol, 9 mil m³ de biometano, 505 MWh de energia elétrica e 6,5 mil t de levedura seca.

No açúcar, na segunda quinzena de junho, a produção de açúcar na região Centro-Sul brasileira apresentou retração de 14,98% em comparação ao mesmo período da safra anterior, somando 2,49 milhões de t, de acordo com a Unica. Por sua vez, no acumulado desde o início do ciclo até 01 de julho, o volume de adoçante alcançou 9,68 milhões de t, refletindo uma redução de 21,58% no período.
Estimativas da Archer Consulting revelam que, aproximadamente, 23% dos contratos de exportação de açúcar para a safra 2023/24 já estejam com preços fixados. Por sua vez, para o ciclo 2024/25, esse volume deve ser de apenas 3%. O ritmo mais lento da comercialização é atribuído à incerteza em relação aos custos de produção das respectivas safras.

Repetindo o feito desta temporada, a Índia deve impor novas restrições à exportação do adoçante no ciclo 2022/23, de modo a garantir a disponibilidade doméstica e conter o avanço nos preços. Estima-se que os valores embarcados devam ser limitados a 6 ou 7 milhões de t, inferiores aos 10 milhões permitidos no atual ciclo. Sendo o maior produtor e o segundo principal exportador, o país pode causar um desbalanço na oferta da próxima safra, elevando os preços referência, os quais já estão próximos às máximas dos últimos cinco anos.
Mas o governo indiano vem considerando a possibilidade de quebrar o teto de 10 milhões de t do ciclo atual, permitindo exportações dos estoques de açúcar bruto acumulados em portos e armazéns. Isso porque o açúcar bruto não pode ser comercializado no mercado doméstico e o longo período de armazenagem pode acarretar em perda de qualidade da matéria-prima, segundo a Associação Indiana de Usinas de Açúcar.

No etanol, considerando a segunda quinzena de junho, foram produzidos 1,16 bilhão de litros de etanol na região Centro-Sul, o que equivale a uma queda de 6,63% frente a mesma quinzena de 2021; já para o anidro a produção foi de 859,86 milhões de litros (+ 0,06%) – dados divulgados pelo boletim quinzenal da Unica. No acumulado desde o início da safra, já foram produzidos 9,02 bilhões de litros de etanol (- 7,17%), sendo 5,80 bilhões do tipo hidratado (- 7,86%) e 3,22 bilhões do tipo anidro (- 5,89%). Ainda, do total produzido até agora, 961,76 milhões de litros (+ 33,27%) foram provenientes do milho.

No mercado doméstico, as vendas de etanol hidratado pelas unidades da região Centro-Sul em junho totalizaram 1,33 bilhão de litros, queda de 6,35% em comparação aos dados do mesmo período de 2021/22; no anidro houve variação negativa de 2,01%, com volume atingindo 836,81 milhões de litros. O saldo acumulado de comercialização no mercado interno é de 4,11 bilhões de litros de hidratado (- 8,03%) 2,42 bilhões de litros para o anidro (+ 3,65%).

Desde o começo da safra, as vendas globais (mercado doméstico + exportações) acumulam saldo de 7,03 bilhões de litros (- 1,86%), sendo 4,30 bilhões de litros (- 8,03%) referentes a etanol hidratado e 2,73 bilhões de litros (+ 9,70) ao anidro.

A Índia alcançou sua meta estabelecida pelo Programa de Mistura de Etanol (EBP) de adicionar 10% do biocombustível na gasolina. Estima-se que houve uma economia de US$ 5,2 bilhões graças à utilização do etanol em mistura com a gasolina. Agora os indianos seguem com o plano de aumentar para 20% até 2025/26.
E fechando a análise do etanol, os preços do Indicador Semanal do Hidratado em São Paulo (Cepea/Esalq) seguem com tendência de queda: em abril, a média mensal ficou em R$ 3,627/l; em maio fechamos em R$ 3,318/l; em junho com R$ 3,061/l; e nas parcerias de julho, temos uma média de R$ 2,931/l. Na data de conclusão da nossa coluna, o preço do litro do hidratado ficou cotado em R$ 2,930. Seguimos acompanhando.

 

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

 

 

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