SUSTENTABILIDADE
Projeto experimental ajuda no avanço do manejo biológico do greening
Um projeto experimental do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) já distribuiu este ano mais de 650 mil exemplares da vespinha tamaríxia (Tamarixia radiata) em plantios de cítricos no Estado. A liberação desses insetos é uma estratégia empregada no manejo do huanglongbing (HLB), doença também chamada de greening dos citros.
Causado pela bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, o HLB provoca o aparecimento de folhas amareladas, deformação dos frutos, debilitação geral das plantas infectadas e, consequentemente, queda na produção, informa Ana Maria Meneghin, entomologista e pesquisadora do IDR-Paraná.
O ciclo da doença envolve um pequeno inseto, o psilídeo asiático dos citros (Diaphorina citri), que suga a seiva das plantas é o principal vetor do HLB — ele adquire a bactéria em plantas doentes e a transmite quando se alimenta em folhas de árvores sadias, explica Meneghin.
O HLB dos citros se encontra disseminado em importantes regiões produtoras ao redor do mundo. Foi detectada no Paraná em 2006, no município de Altônia, Noroeste do Estado.
Uma das propostas da pesquisa para manejo da doença é o uso de um “inimigo biológico”, a vespinha tamaríxia, que deposita seus ovos em ninfas (formas jovens) do psilídeo, matando-as. Dessa forma, provoca a diminuição da presença do vetor da bactéria do HLB nos pomares. Essa técnica também tem sido empregada no Estado de São Paulo, no México, na Costa Rica, nos Estados Unidos e em outras regiões produtoras de citros, aponta Meneghin.
Vespinhas de tamaríxia são liberadas em pomares domésticos (tanto em áreas rurais como urbanas), plantios comerciais abandonados e também nas cidades, sobretudo onde há plantas de murta, espécie ornamental que é uma das principais hospedeiras da bactéria do HLB e do psilídeo dos citros.
A liberação das vespinhas de tamaríxia é feita dessa forma porque, ao contrário dos pomares comerciais, nesses locais geralmente não se faz aplicação de inseticidas, e o inimigo natural fica “protegido”.
O projeto experimental de produção e liberação de tamaríxia começou em 2016, resultado de parceria do IDR-Paraná com a Cocamar Cooperativa Agroindustrial e a empresa Citri Agroindustrial, com articulação da Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Rural (Fapeagro).
Já naquele ano foi realizada a primeira liberação de vespinhas de tamaríxia. A multiplicação é feita pelo IDR-Paraná, enquanto os demais parceiros se encarregam da distribuição no campo.
O trabalho envolve a contínua produção de mudas de murta, que são podadas, dispostas em gaiolas teladas e depois infestadas com exemplares de psilídeo em fase reprodutiva, para que façam a deposição de ovos. Isso é necessário porque o inseto apenas se alimenta de folhas tenras. “Os brotos devem ter ao redor de 2,6 cm para maximizar a quantidade de ovos colocados pelo psilídeo”, explica Meneghin.
Após a deposição, os adultos de psilídeo são retirados com um sugador automatizado, enquanto os ovos evoluem para a fase de ninfa. Em seguida, são introduzidas vespinhas de tamaríxia com idade aproximada de 24 horas, que vão depositar seus ovos nas ninfas de psilídeo.
As novas tamaríxias obtidas são recolhidas e transportadas para o campo. “Contamos atualmente com um sistema de criação que permite a produção média de 119 mil vespinhas por mês”, explica Meneghin, acrescentando que esse número varia em função da estação do ano, sendo maior na primavera e no inverno. As vespinhas de tamaríxia são liberadas pelos parceiros em 21 municípios da Região Norte e 20 da Região Noroeste. Os locais de soltura têm as coordenadas registradas para posterior acompanhamento.
Já foram liberadas mais de quatro milhões de vespinhas desde o início do projeto experimental. Em algumas localidades, chegou a 61% a quantidade de ninfas de psilídeo parasitadas por tamaríxia. “Isso mostra que pode ser, de fato, uma boa medida auxiliar no manejo do HLB”, afirma o pesquisador Rui Pereira Leite Junior, também do IDR-Paraná.
Em outras frentes de atuação contra o HLB, Leite explica que o IDR-Paraná também trabalha em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e cooperativas no desenvolvimento de cultivares de citros resistentes à doença e outras medidas de prevenção e controle do HLB.
Fonte: Agrolink, 06/09/2021